Polícia começa a ouvir hoje testemunhas em investigação de racismo durante show do cantor Seu Jorge

Delegada Andréa Mattos, titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância, ainda pretende ouvir funcionários do clube

Foto: Raquel Barcellos / Polícia Civil / Divulgação / CP

A Polícia Civil marcou, para esta quarta-feira, os depoimentos de testemunhas da investigação de racismo durante show do cantor Seu Jorge, em Porto Alegre. A delegada Andréa Mattos, titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância, pretende ouvir hoje duas pessoas que estavam na plateia do Grêmio Náutico União, clube onde o evento foi realizado. O objetivo é identificar os autores das ofensas.

Nessa terça-feira, o presidente do Grêmio Náutico União, Paulo José Bing, concedeu uma coletiva de imprensa para falar sobre o suposto caso de racismo durante o show do cantor Seu Jorge. Ele se solidarizou com o artista e disse que o clube não tolera esse tipo de crime. De acordo com o dirigente, se algum associado praticou o ato, vai ser punido e pode ser “até excluído dos quadros sociais” do clube. O Grêmio Náutico União já havia publicado uma nota em que informou estar apurando os fatos internamente.

O clube também se prontificou em ajudar a Polícia Civil a elucidar o caso. Bing disse ter recebido o ofício da delegada requisitando a gravação do show e as gravações de câmeras de segurança. Bing, que assistia ao show, presta depoimento à Polícia nesta quinta-feira. Ele esclareceu que não percebeu as injúrias raciais ao fim da apresentação. De acordo com ele, as manifestações ocorreram depois que o artista encerrou o show e não voltou mais para o palco para fazer o “bis”.

Também nessa terça, o governador do Estado, Ranolfo Vieira Júnior, pediu desculpas ‘em nome de todos os gaúchos’ ao cantor. O chefe do Executivo telefonou para o artista. De acordo com a assessoria de Ranolfo, Seu Jorge agradeceu a ligação e a sensibilidade do governador, e disse que vai continuar nutrindo a consideração, o respeito e o amor pelo Rio Grande do Sul.

Além da Polícia Civil, o Ministério Público Estadual informou que, através da Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos de Porto Alegre, instaurou um procedimento investigatório para apurar as responsabilidades, na esfera cível, das “condutas ilícitas de cunho racista” ocorridas durante o show no GNU. No âmbito desse expediente, o MP vai solicitar, à direção do clube, informações, mídias e demais instrumentos de prova.

Na seara criminal, a instituição vai acompanhar as investigações da Polícia Civil. De acordo com o MP, a finalidade é analisar integralmente os elementos de prova e as condutas dos envolvidos, além de um possível compartilhamento de provas com a corporação.

Em paralelo, coletivos já fazem a divulgação de um ato intitulado ‘Manifestação Antirracista no Grêmio Náutico União’, marcado para ocorrer às 16h de sábado, com saída da Praça da Encol.

Relembre o caso

No dia 14 de outubro, Seu Jorge realizou uma apresentação no Clube Grêmio Náutico União. Os ataques começaram após uma manifestação do cantor contra a redução da maioridade penal, defendida pelo presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). No discurso, Seu Jorge fazia referência à defesa de jovens negros de comunidades pobres ao justificar o posicionamento.

Na segunda-feira, o músico se pronunciou sobre o caso e lamentou o ocorrido. “Estaremos bem mais fortes e unidos na luta intensa contra o racismo e toda a forma de preconceito e discriminação. Vamos vencer essa guerra que segrega o nosso povo à miséria e à falta de oportunidade no Brasil. Que mata e maltrata nossos filhos, sobrinhos, primos, primas, irmãos e irmãs todos os dias. Estaremos na luta juntos denunciando e combatendo todo tipo de tipificação de nossa gente e respondendo com excelência, preparo, sabedoria e diplomacia”, disse.