O julgamento do quarto réu pela morte do ex-secretário de Saúde de Porto Alegre, Eliseu Santos, ocorrido em 2010, começou com a desistência de uma das testemunhas de acusação. O advogado e jornalista Leudo Costa foi o primeiro depoente a sentar em frente ao juiz Thomas Vinícius Schons nesta quarta-feira (19), e imediatamente declarou que se manteria calado em razão de ameaças sofridas nos últimos meses.
A testemunha disse que teve a casa arrombada poucos dias antes do julgamento de outro réu, no mês passado, e que, há poucos dias, foi perseguido por dois carros em uma possível tentativa de homicídio, ou intimidação. Costa se queixou da falta de diálogo com o Ministério Público (MP) e garantiu que está saindo de Porto Alegre na tentativa de manter a sua integridade física. Ele completa 67 anos nesta terça.
“Tenho 40 anos de advocacia, sou jornalista, faço 67 anos hoje. E não sei quantos anos eu vou viver. Já morreu gente neste processo. Quem fez o serviço eu não sei, mas eu estou marcado. Eu estou marcado para morrer. As noites na minha casa são impossíveis de dormir. Me sinto impedido de depor por ter sido advogado do Renato. A minha participação no júri se encerra aqui”, desabafou o advogado.
Apesar de não prestar o depoimento solicitado pela acusação, a testemunha disse que reitera tudo o que foi dito por ele no decorrer do processo. Leudo foi contratado pelo réu, Jorge Renato Hordoff de Mello, em razão de uma suposta dívida contraída pela prefeitura de Porto Alegre junto à empresa Reação, que era dirigida pelo empresário. Conforme o MP, um escândalo de corrupção descoberto por Eliseu motivou a execução.
Hordoff é acusado de ser o mandante do crime, arquitetado logo após o rompimento do contrato entre a secretaria de Saúde da Capital e a Reação. O réu nega participação nos fatos. Ele chegou a ser preso após a apresentação da denúncia do MP, que diverge do inquérito policial, mas responde ao processo em liberdade. Jorge é julgado por homicídio qualificado, adulteração de sinal identificador de veículo automotor e corrupção ativa.
Viúva relembra noite do crime
Logo após a forte declaração de Leudo Costa, a viúva de Eliseu Santos, Denise Goulart Silva, prestou um novo depoimento. Ela, entretanto, não é considerada testemunha, e sim uma informante. A mulher, que testemunhou a execução do marido ao lado da filha, que tinha apenas sete anos, lembrou que o médico e político foi chamado pelo nome antes de ser morto. Tudo aconteceu na saída de um culto religioso.
“Vi que estava vindo um carro prata, e vi dois homens jovens descendo. Eu estava dizendo para minha filha colocar o cinto, virada para ela. Quando ele foi abrir a porta, chamaram ele. Eu vi tudo, parecia em câmera lenta. Comecei a gritar por socorro, a chamar pessoas. Nossa filha tinha sete anos e se desesperou. É difícil até hoje porque ela não consegue falar o nome pai”, relatou a pedagoga.
Júri deve seguir até a noite
Ao todo, sete pessoas compõem o conselho de sentença no júri de Jorge Renato Hordoff de Mello: cinco mulheres e dois homens. Além das duas pessoas que compareceram ao Foro Central de Porto Alegre na manhã, outras oito devem prestar depoimento. São cinco testemunhas de acusação e cinco de defesa. Depois, o réu terá o direito de prestar o seu depoimento. Por fim, as partes participarão do debate que antecede o fim do julgamento.
Relembre o caso
O então secretário de Saúde de Porto Alegre, Eliseu Santos, foi morto aos 63 anos na saída de um culto religioso, no bairro Floresta, em Porto Alegre, na presença da mulher e da filha, que tinha apenas sete anos. O então secretário estava armado, tentou revidar os disparos, mas não resistiu. Polícia Civil e Ministério Público divergem quanto ao caso. A investigação conduzida à época apontou que Eliseu havia sido vítima de um latrocínio.
A versão dos fatos que é julgada, entretanto, é a do MP – que sustenta que a morte foi encomendada. Isso porque o secretário teria descoberto um esquema de corrupção, envolvendo a empresa responsável pela vigilância dos postos de saúde da Capital à época dos fatos. Com isso, 12 pessoas respondem pelo assassinato. Duas já foram condenadas: Eliseu Gomes e Fernando Krol, sentenciados a 27 anos e 10 meses de prisão em 2016.
Além do júri que acontece hoje, envolvendo Mello, outros dois devem acontecer ainda neste ano, com mais cinco réus. Dois acusados fazem parte de um processo que sequer tem previsão de ir a julgamento. Em 23 de novembro, sentam no banco dos réus Jonatas Gomes e Marcelo Machado Pio. Por sua vez, Cássio Medeiros de Abreu, Marco Antonio de Souza Bernardes e José Carlos Elmer Brack serão julgados em 12 de dezembro.
Três pessoas já foram condenadas: No dia 23 do mês passado, Robinson Teixeira dos Santos pegou 33 anos, cinco meses e 15 dias de prisão. Em maio de 2016, os réus Eliseu Pompeo Gomes e Fernando Junior Treib Krol foram sentenciados a 27 anos e 10 meses de prisão em regime fechado. Todos os réus negam envolvimento no crime.
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