Pesquisa aponta que mais de 208 mil crianças vivem em situação de pobreza no RS

Já o número de crianças em situação de extrema pobreza chega a 32,4 mil no Estado

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

No ano de 2021, a taxa de pobreza para o total da população gaúcha chegava a 12,5%, e a extrema pobreza atingia 2,6% dos moradores do Rio Grande do Sul. Mas nem toda a população do Estado é atingida da mesma forma pelo fenômeno da pobreza. Entre as crianças na primeira infância, com idade entre zero e seis anos, a taxa de pobreza chegava a 24%, e a extrema pobreza atingia 3,7%. Ou seja, a taxa de pobreza para crianças era 91% maior do que para a população geral, e a taxa de extrema pobreza 43% maior. Em termos absolutos, isso significa que no estado havia 208,8 mil crianças vivendo e famílias com renda per capita abaixo da linha de pobreza em 2021, e 32,4 mil crianças em domicílios com renda inferir à linha de extrema pobreza.

As informações constam no relatório “Pobreza Infantil no Brasil”, produzido por pesquisadores do PUCRS Data Social: Laboratório de desigualdades, pobreza e mercado de trabalho. Os dados são provenientes da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em valores mensais de 2021, a linha de pobreza é de aproximadamente R$ 465 per capita e a linha de extrema pobreza é de aproximadamente R$ 160 per capita. Crianças que vivem em domicílios com renda per capita abaixo desses valores estão em situação de pobreza e/ou de pobreza extrema.

Segundo os pesquisadores, o que explica o fato de as taxas de (extrema) pobreza serem maiores entre as crianças é que estas estão mais concentradas na base da pirâmide social. O professor Andre Salata, pesquisador do PUCRS Data Social, afirma que “no Rio Grande do Sul, 62,1% das crianças de zero até seis ano de idade vivem em domicílios que estão entre os 40% mais pobres do país, e somente 4,1% moram nos domicílios que compõem o estrato dos 10% mais ricos. Ou seja, as crianças estão sobrerepresentadas na base da pirâmide social, e por isso são vítimas mais frequentes da pobreza”.

Segundo a professora Izete Bagolin, pesquisadora do PUCRS Data Social, “a exposição à pobreza monetária e as demais privações a ela associadas, nessa faixa etária que é a mais importante para o desenvolvimento das habilidades cognitivas e não cognitivas de uma pessoa, é algo grave, que que traz prejuízos irreversíveis, e que comprometem não só o potencial da pessoa e de seus descendentes, mas também o potencial de desenvolvimento econômico do país”.

O prof. Ely José de Mattos, pesquisador do PUCRS Data Social, acrescenta que “a pobreza infantil é particularmente grave por afligir o indivíduo em uma fase de sua formação que é crucial para seu desenvolvimento futuro; e os níveis de pobreza que observamos hoje no Brasil acendem um importante alerta”.

Nem todas as crianças, no entanto, apresentam a mesma chance de se encontrarem em situação de pobreza ou pobreza extrema. Entre as crianças negras, por exemplo, a taxa de pobreza em 2021 era de 29%, e a taxa de pobreza extrema ficava em 4,6%. Já entre as crianças brancas essas cifras eram de 22,9% e 3,6%, respectivamente. Nas áreas rurais do estado do RS, 38,7% das crianças estavam em situação de pobreza, enquanto no meio urbano eram 21,6%.

O estudo também mostra que as crianças em situação de pobreza sofrem desvantagens em outras dimensões que não a monetária. Por exemplo, Entre as crianças cujas famílias estão acima da linha de pobreza, 69% vivem em domicílios cujo chefe tinha Ensino Médio completo. Esse percentual cai para 46,3% entre as crianças cujas famílias estavam abaixo da linha de pobreza, e desce para 41,7% entre os extremamente pobres.

Além disso, entre as crianças que estão acima da linha de pobreza, 11,8% vivem em famílias monoparentais. Esse percentual sobre para 33,4% entre as crianças cujas famílias estão abaixo da linha de pobreza, e chega a 61,4% entre aquelas em situação de extrema pobreza. Ou seja, há uma clara tendência de redução do nível de escolaridade na família e de ausência de um dos responsáveis para as crianças mais pobres. Segundo os pesquisadores, estes são fatores que afetam não somente a qualidade de vida destas crianças no presente, mas também suas oportunidades no futuro.

De acordo com Andre Salata, “é importante compreender que a pobreza não indica somente uma privação monetária. Em função das condições de vida mais duras, famílias pobres têm dificuldades para garantir os estímulos necessários ao bom desenvolvimento de capacidades cognitivas e não cognitivas para seus filhos, com prejuízos que se dão no presente, mas que também serão sentidos no futuro dessas crianças”.