O trabalhador temporário é, hoje, uma peça-chave para o desenvolvimento econômico do país. De janeiro a junho deste ano foram geradas 1,3 milhão de vagas com contrato por tempo determinado no país, e esse número deve ser ainda maior no segundo semestre, por conta de eventos como a Copa do Mundo de Futebol e a Black Friday, e de datas comemorativas como o Dia das Crianças e o Natal.
A Asserttem (Associação Brasileira de Trabalho Temporário) estima que, só nos meses de julho, agosto e setembro sejam abertas mais de 630 mil vagas temporárias, um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2021. A oferta de postos de trabalho por tempo determinado cresceu 35% em 2020, na comparação com o ano anterior, e teve alta de 21% em 2021.
No ano passado, 2.415.419 trabalhadores foram contratados nessa modalidade, o que superou as expectativas do setor, segundo a Asserttem. Foi o melhor resultado desde 2014, quando teve início a série histórica medida pela entidade.
Um dos fatores que impulsionou o crescimento do setor foi a pandemia da Covid-19. “Para reduzir custos e se ajustar às demandas do mercado, as empresas recorreram ao uso intensivo de temporários. O setor de contratação temporária evoluiu muito e rapidamente. Antes, não existiam sistemas eficazes de gerenciamento de pessoal, não registrava pronto, o que é totalmente possível agora. Isso contribuiu para diminuir o desemprego e, agora, já permitiu o restabelecimento dos quadros de pessoal”, afirma Marcos de Abreu, presidente da associação.
Para ele, a crise motivada pelo coronavírus evidenciou as vantagens das contratações pontuais, ou em ‘picos’. “Os contratos ‘stop and go’, do tipo intermitente, permanecem em alta, mas não visam mais repor o quadro de funcionários, o que já se normalizou. A tendência é as contratações temporárias aumentarem e muito no segundo semestre”, diz.
É provável, inclusive, que faltem trabalhadores para preencher o número de vagas será aberto. “A demanda está acima do esperado, na comparação com os anos de normalidade, anteriores a 2020”, fala Abreu.
Na avaliação do presidente da Asserttem, indústrias, comércio e o setor de logística estão “atrasados” nas contratações dos empregados temporários necessários para atender à demanda da Black Friday. “Isso tem de ser feito já. Normalmente, a indústria começa a contratar em agosto, para ter tudo pronto para novembro. Se não houver demanda, demite o excedente de funcionários em outubro. Daí, para o Natal, o comércio contrata temporários no início de dezembro”, explica.
Números
No primeiro semestre de 2021 foram criadas 1.385.989 vagas de trabalho temporário, enquanto, em 2022, no mesmo período, houve uma queda de 4,6%, com 1.322.200 novos postos. Em julho deste ano, 197.580 pessoas foram contratadas para vagas temporárias e, em agosto, este número subiu para 248.560.
“No ano passado, a indústria foi pega de surpresa, ninguém esperava tamanha demanda e faltou gente para trabalhar na produção para o Natal. O primeiro semestre de 2022 deu uma arrefecida, foi menos aquecido que o de 2021, por causa de fatores desfavoráveis, mas houve harmonia, a oferta de vagas foi crescendo gradativamente: primeiro 5%, depois 6%”, analisa o presidente da Asserttem.
Dentre os fatores que comprometeram a criação de postos de trabalho temporário nos primeiros seis meses deste ano, ele cita a seca, o preço da gasolina, e a escassez de insumos industriais, esses últimos acentuados pela guerra na Ucrânia. “Com as supersafras da soja e milho, era mais interessante vender alimentos no exterior que no mercado interno, e a opção por exportar elevou os preços internamente”, comenta.
Para Abreu, o segundo semestre já está bem mais positivo. “O dólar está ficando mais estável, houve um aumento da empregabilidade, os preços dos produtos estão caindo enquanto a inflação salarial está subindo, e ainda vai aumentar mais, porque o salário costuma demorar mais para subir. O setor da terceirização da mão de obra é sensível às mudanças no mercado, porque as empresas só contratam quando têm certeza de que vão produzir. Se não for assim, há cortes.”
O presidente da associação explica que o trabalho temporário está crescendo também pela simplicidade na administração. “A flexibilidade nos contratos é mais desejada pela indústria e comércio. Contratar temporário é mais rápido, vale mais a pena para a empresa”, diz. E quem começa assim, ainda tem boas chances de continuar no emprego. “No semestre anterior, as efetivações caíram de 22% para 18%, mas agora no segundo semestre já observamos que mais temporários estão sendo efetivados”.
Regiões do país e setores da economia
Segundo a Asserttem, a perspectiva é de dificuldades na contratação de mão de obra temporária nos próximos meses, devido à falta de trabalhadores. Isso deve ser sentido principalmente em estados como Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás, e em algumas regiões do interior de São Paulo. “São localidades que estão praticamente em pleno emprego, são bastante industrializadas e têm demanda maior de trabalhadores”, fala Abreu.
Ele diz que existe mão de obra sobrando nas capitais e grandes cidades, mas que falta no interior, principalmente nos municípios pequenos. “Tem cidades que perdem novas indústrias porque não têm pessoal para oferecer.”
Ainda segundo a associação, a indústria é, e sempre foi, a campeã das contratações temporárias. “O que está surpreendendo, com crescimento continuo, é a área de serviços, que ficou desabastecida, por causa das demissões na pandemia. Não foi assim em anos anteriores”, conta Abreu.
Alguns segmentos industriais com forte demanda neste ano são alimentício, farmacêutico, materiais de construção e de óleo e gás. “A indústria alimentícia, por exemplo, precisa de muita gente para trabalhar no chão de fábrica, há necessidade de pessoal para trabalhar como desossador de frango, embalador de produtos congelados e para fazer carga e descarga”, diz.
Já no setor de serviços, a entidade prevê crescimento das contratações nas áreas de logística, tecnologia da informação, restaurantes, e no comércio. “Sempre é mais fácil enxergar a contratação temporária no comércio, principalmente com a proximidade de eventos como Black Friday e Copa do Mundo. Mas, por trás das vendas está a produção, que também aumenta muito por conta disso. Com a pandemia, e o crescimento das vendas on-line, as grandes contratantes, na indústria e em logística, passaram a optar mais por temporários”, afirma Abreu.
Ele conta que o e-commerce tornou “mais violenta” a necessidade das empresas por trabalhadores, pois elas sentem imediatamente a demanda, e têm de negociar prazos para dar conta de atender os clientes. “Já estão faltando produtos, principalmente os da linha branca [eletrodomésticos]. Essa deve ser a grande a saída nos eventos deste segundo semestre, porque as indústrias estão com demanda reprimida. Por isso, elas não devem demitir ninguém, só contratar”.
De olho nas vagas
Marcos de Abreu, presidente da Asserttem, diz que, com a previsão de falta de mão de obra, provavelmente vai haver disputa por trabalhadores temporários, o que deve obrigar os contratantes a oferecer melhores condições ou pagar salários maiores.
“O salário médio das contratações temporárias no país é R$ 1.800, e a ideia é esse valor se manter. Mas a alta demanda pode aumentar os salários. Pela lei, o temporário deve receber pagamento igual ao do efetivo, para desempenhar a mesma função, não pode ganhar menos. Mas o salário é equiparado, o seja, leva em conta experiência, senioridade, tempo de casa”, explica.
Como o trabalhador temporário não tem os mesmos benefícios que os efetivos, os contratantes costumam pagar um pouco mais para eles, de 10% a 20% acima do salário bruto habitual para o cargo. Se, depois, o contrato de trabalho deixar de ser provisório, o empregado perde o extra, que era específico para a situação transitória. Por outro lado, ele passa a contar com vantagens como plano de saúde, que não é garantido para temporários.
Os contratos por prazo determinado podem ser de, no máximo, 180 dias por ano. Se ultrapassar esse limite, o trabalhador deixa de ser caracterizado como temporário. “O empregador que quiser ampliar o período do contrato para além desse prazo entra em uma exceção, e precisa pedir autorização para o Ministério do Trabalho para fazer a prorrogação”, diz Abreu.
O presidente da Asserttem conta que a idade média das pessoas contratadas é de 22 a 35 anos, sendo 63% mulheres, e 57% homens. A escolaridade exigida costuma ser 1º grau completo, porque a maioria dos cargos exige esforço físico mais que intelectual. Não existe uma preparação a ser feita pelos candidatos, e a capacitação cabe ao próprio contratante.
Além disso, não é preciso ter experiência. “A pessoa pode ter pouco tempo de trabalho, porque vai ficar ao lado de um funcionário efetivo. Mas ela tem que ter qualidades para acompanhar as orientações do colega, precisa aprender rápido, ser ativo, trabalhar em equipe. A ideia é ficar na vitrine para ter chances de ser efetivado”, diz.
Portanto, para quem quiser se candidatar para algum trabalho temporário, as dicas são: estar disponível, inclusive com flexibilidade de horário, procurar oportunidades perto de sua residência, e deixar todos os documentos em dia, já prontos para entregar ao RH da empresa, em caso de contratação.
“Hoje é tudo digital, o que torna o processo muito rápido. Além disso, antes de assinar o contrato, a pessoa que vai trabalhar como temporário precisa se planejar para as épocas em que vai ficar sem contrato, contando com as indenizações trabalhistas para sua subsistência e outras despesas, como viagens. Ela também tem de ver vantagens no trabalho, como a possibilidade de ser efetivada posteriormente”, ensina Abreu.
Para ele, o aquecimento da economia deve ser mais sentido em outubro e, por isso, este deverá ser o melhor mês para as contratações de temporários, tanto na indústria como no comércio tradicional e no digital. As perspectivas para 2023 são de continuidade no crescimento. “Essa é a nossa percepção, mas muita coisa interfere. Se o primeiro semestre tiver seca, por exemplo, as contratações podem ser abaladas. Mas, se o clima favorecer a lavoura, já no primeiro trimestre, a situação pode voltar aos patamares anteriores à pandemia”, diz.