Com grandes consequências militares e econômicas para muitos países e sem perspectivas de cessar-fogo, a guerra na Ucrânia completa seis meses nesta quarta-feira (24), dia em que também é celebrado o 31º aniversário da independência do país em relação à União Soviética.
O presidente ucraniano Volodmir Zelenski afirmou nesta semana que, enquanto o conflito avança, a Rússia poderia tentar “algo particularmente feio” no período próximo à data, alertando sobre o risco de ataques mais severos.
Para o cientista político e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) Pedro da Costa Júnior, a Ucrânia atua como um “peão menor” em uma guerra que envolve potências mundiais. “A Ucrânia tem o suporte dos Estados Unidos e de seus aliados, enquanto a Rússia tem o suporte da China. Essa é uma guerra sistêmica e global, por isso não tem previsão para acabar.”
“O presidente russo Vladimir Putin criou uma estratégia que é a de mover a guerra sem horizontes. Os objetivos dele são nebulosos, o que dá a oportunidade de mudá-los à medida que o conflito avança”, conclui.
Em 4 de fevereiro, Putin e o presidente chinês Xi Jinping assinaram um documento em que classificaram a parceria entre Rússia e China de “sem limites” e se mostraram favoráveis ao fim da hegemonia americana. Depois de 20 dias do pacto, o Exército russo invadiu a Ucrânia.
A professora de relações internacionais da UFSE (Universidade Federal de Sergipe) Bárbara Motta acredita que “essa aliança demonstra a outros países que a Rússia e o presidente Putin não estão tão isolados na política internacional como pensam e gostariam”.
“Entretanto, com a guerra na Ucrânia, a Otan ganhou um fôlego renovado que pode se traduzir em um reforço da hegemonia americana, relegitimada pelos membros do grupo.”
“Mudanças irreversíveis”
Depois das tentativas frustradas de conquistar Kiev, capital ucraniana, o Exército russo se concentra no leste do país, mais especificamente na região separatista do Donbass (formada por Donetsk e Lugansk), onde os russos já controlam muitas cidades.
A especialista Bárbara Motta acredita que a guerra deve cada vez mais se restringir ao leste e ao sul ucraniano e se estenderá pelos próximos meses. “Do ponto de vista das questões estratégicas e políticas da Rússia, é interessante que o conflito seja prolongado e desgastante porque com isso existe a possibilidade de perda do interesse público e dos governos do Ocidente.”
Em meio ao jogo de poder das potências mundiais, a Ucrânia admitiu na última segunda-feira (22) que cerca de 9.000 de seus soldados foram mortos desde o início da invasão russa. Além disso, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), o conflito deixou 6,6 milhões de refugiados.
Para além da “guerra sem horizontes”, Costa Júnior ressalta que o conflito é “vital” para que a Rússia não perca sua zona de influência no Leste Europeu.
“A Otan resiste ao máximo, mas não pode entrar diretamente no conflito, já que isso poderia desencadear a Terceira Guerra Mundial. Enquanto isso, para os Estados Unidos, a guerra se torna conveniente à medida que desgastam a Rússia sem deixar o governo da Ucrânia retroceder.”
Costa Júnior destaca também que a invasão russa trouxe consequências definitivas: “Uma vez que a Rússia conquistou territórios ucranianos, não abrirá mão deles, ou seja, a mudança que ocorreu no mapa da Ucrânia é irreversível”.