Representantes do governo iraniano negaram, nesta segunda-feira, que o país tenha envolvimento com o homem de 24 anos que desferiu ao menos 15 facadas no autor anglo-indiano Salman Rushdie, de 75 anos, durante um evento em Nova York na última sexta-feira. O escritor é ameaçado de morte por líderes do Irã, que o acusa de blasfêmia por descrever ficcionalmente a vida de Maomé em obras literárias desde o fim da década de 1980.
Nasser Kanaanido, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, declarou que “ninguém tem o direito de acusar o Irã” e que, de acordo com a posição oficial, o país considera que a responsabilidade do ataque recai unicamente sobre ‘Salman Rushdie e seus apoiadores, dignos de reprovação e condenação’. A declaração ocorre após Antony Blinken, secretário de Estado dos Estados Unidos, ter acusado instituições de Teerã de incentivar a violência contra Rushdie.
Identificado como Hadi Matar, o autor das punhaladas está detido, desde sábado, por tentativa de homicídio. Apesar de a motivação do ataque não ter sido divulgada, investigações preliminares da polícia nova-iorquina apontaram que o agressor era simpático ao governo iraniano.
De acordo com o agente de Rushdie, que passou por cirurgias e segue internado desde o ataque, o autor respira sem a ajuda de aparelhos e já consegue se comunicar. Segundo o representante, o escritor corre o risco de perder um olho e sofreu danos ao nervo do braço, mas deve recuperar os movimentos da mão.
Regime de Khomenei chegou a oferecer recompensa pela morte do escritor
Inimigo público do Irã desde 1989, após a publicação da obra Versos Satânicos, Rushdie recebeu acusações de blasfêmia, pelo regime de Khomenei, por ter retratado, ficcionalmente, aspectos da vida de Maomé através de personagens que criou. Um ano depois, o aiatolá divulgou uma recompensa de US$ 3 milhões pela morte do escritor.
Rushdie buscou o programa de proteção do governo britânico, e passou nove anos escondido em anonimato, antes de reaparecer publicamente. Vigiado por seguranças armados 24 horas por dia, o autor se manteve crítico ao governo do Irã e ao extremismo religioso.
Na última sexta-feira, o escritor recebeu 15 facadas, na região do pescoço e no fígado, ao se preparar para uma palestra no Chautauqua Institution, na região nordeste de Nova York. O autor das facas, natural de New Jersey, comprou ingresso para o evento e acompanhou parte da atividade sentado em meio às 2,5 mil pessoas da plateia, antes de subir ao palco para atacar o escritor.