Diplomata preso por morte de marido: perícia aponta espancamento

Uwe Herbert Hahn passou por audiência de custódia e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva

Cônsul alegou que vítima sofreu queda | Foto: R7 / Reprodução CP

A Polícia Civil do Rio de Janeiro afirma não ter dúvidas do envolvimento do agente consular alemão Uwe Herbert Hahn na morte do marido, o belga Walter Henri Maximilien Biot, de 52 anos. Biot foi encontrado morto na noite de sexta-feira, na cobertura onde moravam, em um edifício em Ipanema, na zona sul da cidade.

Hahn foi preso em flagrante no sábado e permanecerá na cadeia, conforme decisão do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). Neste domingo, ele passou por audiência de custódia e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva.

O alemão foi preso pela delegada assistente da 14ª DP (Leblon), Camila Lourenço, responsável pelas investigações. “As conclusões foram pautadas na perícia técnico-científica, necropsia e perícia de local, que apontam de forma segura lesões decorrentes de ações contundentes. Elas estavam espalhadas por todo o corpo, antigas e recentes, e sugerem ter havido espancamento”, afirmou Camila.

Agentes da 14ª DP e peritos da Polícia Civil passaram o sábado analisando o apartamento onde os dois moravam. Em conversa inicial feita no próprio local, Hahn alegou que o companheiro tinha passado mal e desmaiado, batendo o rosto no chão. Depois, reiterou as declarações em depoimento prestado na delegacia.

O exame de necropsia, contudo, indicou que o corpo da vítima apresentava mais de 30 lesões, algumas antigas, não compatíveis com uma queda. Além disso, a causa da morte foi apontada como traumatismo craniano provocado por ação contundente. A perícia policial no apartamento também indicou sinais de luta corporal.

“A versão do cônsul revela-se frágil, inverossímil. Ele alega que o companheiro teve um surto repentino, levantou do sofá, saiu correndo em direção ao terraço, tropeçou e bateu com o rosto no chão. Mas a causa da morte, lesão na nuca, é incompatível com essa versão”, afirmou a delegada. “Havia uma lesão anal, a casa repleta de espargimento de sangue e fezes. A casa estava em completo desalinho, muito suja, com fezes por todo local. Me sinto segura para afirmar que houve espancamento.”

Além do depoimento de Uwe Herbert Hahn, os policiais ouviram a secretária do casal e o porteiro do edifício. Ele afirmou que a relação do casal “parecia ser pacífica, harmoniosa” e negou ter presenciado discussão entre eles.

Devido à função que exerce, de representante da Alemanha em outro país, há poucas informações sobre a vida pessoal de Uwe Hahn. Sabe-se que ele ficou lotado um tempo nos Estados Unidos e que seu próximo posto seria no Haiti.

A representação alemã no País, por sua vez, informou que está em contato direto com as autoridades, mas não poderia dar maiores detalhes porque as investigações estão em andamento e por questões de segurança.

A defesa de Uwe Herbert Hahn não se manifestou publicamente, assim como o representante do consulado no Rio, um deles acompanhou todo o depoimento. Na delegacia e, depois, em dois pedidos de habeas corpus, negados, e na audiência de custódia, os advogados pediram a soltura do alemão por “imunidade diplomática”.

Para a delegada Camila Lourenço, o caso de Hahn não se enquadra nesse quesito. “Foi um crime doloso contra a vida, no interior de um apartamento, em território nacional e não guarda relação com atividades consulares. Entendo que a Convenção de Viena não se aplica ao caso em questão, que trata de prisão preventiva. Nós estamos falando de prisão em flagrante”, disse Lourenço.