Homem de 66 anos é o quarto paciente curado do HIV no mundo

Hospital nos EUA realizou anúncio; idoso tratava câncer e recebeu células-tronco de um doador com mutação genética rara

Foto: Thomas Coex / Divulgação

Um hospital na Califórnia, nos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira que um homem de 66 anos está há mais de um ano e cinco meses em remissão do HIV, vírus causador da Aids, após receber um transplante de células-tronco e interromper o tratamento da doença. Na prática, isso significa que ele está curado por todo esse tempo. É o quarto caso de cura reportado, em quase 40 anos de pesquisas sobre a doença, em todo o mundo.

Em um comunicado divulgado pelo Hospital City of Hope, o paciente confessa que nunca pensou encontrar a cura. O idoso convivia com a doença há mais de 30 anos e, com isso, passa a ser considerado o caso mais longo de paciente infectado pelo HIV que atinge a cura. O procedimento de remissão começou após um transplante de células-tronco para tratar um tipo câncer no sangue mais prevalente em pessoas soropositivas, a leucemia mielóide aguda (LMA).

Com 63 anos na época, o homem recebeu as células de um doador voluntário de células-tronco com uma mutação genética rara, denominada mutação CCR5 delta 32, que contém o homozigoto que torna as pessoas resistentes à maioria das cepas do vírus HIV.

Isso se dá porque, geralmente, esse vírus usa a proteína CCR5 como “porta de entrada” para invadir as células imunes e atacar o sistema imunológico. Porém, em indivíduos com essa mutação o caminho é bloqueado, impedindo a replicação do vírus.

“Ele viu muitos de seus amigos morrerem de Aids nos primeiros dias da doença e enfrentou tanto estigma quando foi diagnosticado com HIV, em 1988. Mas, agora, ele pode comemorar este marco médico. Não podemos encontrar evidências de replicação do HIV em seu sistema”, disse a professora Jana Dickter, da divisão de doenças infecciosas do City of Hope.

Além de conseguir o feito de ser o paciente mais velho com HIV e câncer no sangue a se submeter a um transplante, ele também se tornou oi primeiro a alcançar a remissão de ambas as doenças nessa idade. “Este paciente tinha um alto risco de recaída de LMA, tornando sua remissão ainda mais notável”, disse o hematologista do City of Hope Ahmed Aribi.

Após a aprovação de um conselho de revisão institucional, o indivíduo parou, em março de 2021, de tomar antirretrovirais usados por pacientes com HIV. Ele evitou descontinuar o uso antes porque queria se vacinar contra a Covid-19.

O City of Hope alega que continua monitorando o paciente de forma contínua e que o caso confere um grande avanço para o tratamento da doença com células-tronco.

Os pesquisadores devem continuar procurando formas de agir diretamente sobre a proteína CCR5 a partir de terapias menos invasivas, como a genética.

Relembre o terceiro caso de cura

A terceira pessoa a atingir a cura do HIV havia sido uma mulher, após receber um transplante de células-tronco de cordão umbilical durante um tratamento de leucemia mieloide aguda.

Em outros dois casos a remissão do vírus HIV havia sido observada antes. O primeiro caso envolveu o chamado “paciente de Berlim”, considerado curado por 12 anos — até morrer de leucemia, em setembro de 2020. O segundo, chamado de “paciente de Londres”, está em remissão do HIV há mais de 30 meses.