Pandemia causa a maior queda de cobertura vacinal nos últimos 30 anos, dizem ONU e OMS

Pesquisa mostra que a imunização de crianças seguiu em queda em 2021

Foto: FREEPIK / R7

A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgaram, na noite desta quinta-feira, uma pesquisa mostrando que a pandemia de Covid-19 reduziu a taxa da cobertura vacinal de crianças ao patamar mais baixo dos últimos 30 anos.

“Este é um alerta vermelho para a saúde da criança. Estamos testemunhando a maior queda sustentada na imunização infantil em uma geração. As consequências serão medidas em vidas”, disse Catherine Russell, diretora executiva do Unicef.

“Embora fosse esperada uma ressaca da pandemia, o que estamos vendo agora é um declínio contínuo. A Covid-19 não é uma desculpa. Precisamos recuperar a imunização para os milhões desaparecidos ou inevitavelmente testemunharemos mais surtos, mais crianças doentes e maior pressão sobre sistemas de saúde já tensos”, completou Catherine.

De acordo com as organizações, essa queda acontece pela associação de diversos fatores: aumento do número de crianças vivendo em conflitos e ambientes frágeis onde o acesso à imunização é escasso, crescimento da desinformação e questões relacionadas à pandemia, como interrupções de serviços e cadeia de suprimentos, desvio de recursos para esforços de resposta e medidas de contenção que limitaram o acesso e a disponibilidade dos serviços de imunização.

No caso do sarampo, a cobertura de primeira dose caiu para 81% em 2021, também o menor nível desde 2008. Isso significa que 24,7 milhões de crianças perderam a primeira dose de sarampo no ano passado, 5,3 milhões a mais do que em 2019.

Proteção contra HPV

A saúde de mulheres e meninas teve mais um agravante. Mais de um quarto da cobertura de vacinas contra o HPV alcançada em 2019 se perdeu. A cobertura global da primeira dose da vacina contra papilomavírus humano (HPV) é de apenas 15%, apesar das primeiras vacinas terem sido licenciadas há mais de 15 anos.

O HPV é a principal causa do câncer de colo do útero. Só no Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), esse tumor é o terceiro com maior incidência em mulheres, perdendo apenas para o câncer de pele e não melanoma.

Surtos de doenças evitáveis

A baixa vacinação já resulta em surtos evitáveis de sarampo e poliomielite nos últimos 12 meses, ressaltando o papel vital da imunização para manter crianças, adolescentes, adultos e sociedades saudáveis.

O retrocesso histórico acontece em um cenário de aumento das taxas de desnutrição aguda grave. Uma criança desnutrida já apresenta uma imunidade mais fraca e a falta de vacinas pode significar que doenças comuns na infância rapidamente se tornem letais para elas. A convergência de uma crise de fome com a falta de imunização ameaça criar condições para uma crise de sobrevivência infantil.

Com os resultados, ONU e OMS pedem a intensificação de esforços para recuperar a vacinação e enfrentar esse retrocesso na imunização de rotina, com a ampliação de serviços em áreas carentes, para alcançar crianças carentes, e implementação de campanhas para prevenir surtos.

Além disso, há o pedido da criação de estratégias para construir e fortalecer a confiança das pessoas em vacinas, através do combate à desinformação.

Para a contenção de surtos e epidemias, a OMS pede a priorização do fortalecimento das informações de saúde e dos sistemas de vigilância de doenças, para fornecer os dados e o monitoramento necessários para que os programas de vacinação tenham o máximo impacto.