Pastor cobrou R$ 100 mil de empresário em troca de evento do MEC, aponta PF

Arilton Moura pediu quantia de empresário e disse que valor era "para auxílio a obras missionárias" desenvolvidas pela igreja

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O pastor Arilton Moura, suspeito de participar de um esquema de corrupção e tráfico de influência no Ministério da Educação (MEC), cobrou supostos R$ 100 mil de um empresário em troca da realização de um evento da pasta em um município de São Paulo.

As informações foram apuradas pela Polícia Federal (PF), que investiga o suposto método ilegal de liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado ao Ministério da Educação. Arilton e o também pastor Gilmar Santos foram acusados de atuar no órgão, mesmo sem cargos no governo, para articular a transferência de recursos a municípios em troca de propina.

Segundo a corporação, em agosto do ano passado, o religioso intermediou uma conversa entre um empresário de Piracicaba (SP) e o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, na qual pediu a realização de um evento do MEC na cidade de Nova Odessa (SP).

Como condição para fazer a viagem, Arilton solicitou a compra de passagens aéreas para ele e mais três pessoas: o ex-gerente de Projetos da Secretaria Executiva do MEC Luciano Freitas Musse, Gilmar Santos (outro pastor envolvido no suposto esquema) e Helder Diego Bartolomeu (genro de Arilton). Os bilhetes aéreos custaram quase R$ 24 mil e foram pagos pela Secretaria Municipal de Finanças de Piracicaba.

Além disso, o religioso cobrou do empresário uma transferência de R$ 100 mil a ele “para auxílio a obras missionárias” desenvolvidas pela igreja da qual participa. “Acreditando na boa-fé do pastor”, segundo a PF, o empresário pediu a um amigo para fazer os repasses. Dos R$ 100 mil solicitados, Arilton recebeu R$ 67 mil. Desse total, R$ 20 mil foram destinados a Luciano e R$ 30 mil a Helder Diego.

O empresário envolvido na situação apresentou os comprovantes de transferência à Polícia Federal, bem como a nota fiscal das passagens pagas pela Prefeitura de Piracicaba. No entendimento da corporação, não resta dúvida da atuação de uma organização criminosa.

De acordo com a corporação, “as camadas de atuação são perceptíveis e individualizam perfeitamente as condutas, sendo o ex-ministro da Educação quem conferia o prestígio da administração pública federal à atuação dos pastores Gilmar e Arilton, conferindo aos mesmos honrarias e destaque na atuação pública da pasta, até mesmo, internamente, nas dependências da sede do Ministério da Educação, e, sobretudo, nos eventos onde os pastores faziam parte do dispositivo cerimonial”.

Musse se passou por assessor de pastor
O advogado Luciano Musse, que era funcionário do MEC, se dizia assessor de Arilton em algumas situações, segundo a Polícia Federal. Uma das acusações nesse sentido partiu do prefeito de Jaupaci (GO), Laerte Duarte, em depoimento à corporação.

Para a PF, “a infiltração de Luciano nos quadros de servidores da pasta demonstra a sofisticação da atuação agressiva da ORCRIM [organização criminosa], que indica desprezo à probidade administrativa e fé pública”.

Musse assumiu o cargo de gerente de Projetos do MEC em abril de 2021. Ele era tido como homem de confiança de Gilmar e Arilton. O ex-servidor tinha como suposta função agilizar os repasses de recursos negociados pelos dois pastores. Luciano teve a exoneração confirmada, em 29 de março, após terem sido revelados os primeiros escândalos de atuação dos pastores no ministério.

Assim como Milton, Gilmar e Arilton, Luciano havia sido preso nessa quarta-feira, no âmbito da operação Acesso Pago, da PF, que apura um esquema ilegal de liberação de verbas do FNDE. Nesta quinta, no entanto, o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal (TRF-1), concedeu liberdade aos quatro e ao ex-assessor Helder Diego da Silva Bartolomeu.

As investigações tiveram início depois que foram divulgadas informações sobre a existência de um “gabinete paralelo” dentro do MEC com os pastores Gilmar e Arilton articulando a liberação de recursos do FNDE a municípios em troca de propina. Prefeitos ouvidos no Senado, na Comissão da Educação, confirmaram pedidos e disseram ter havido até mesmo solicitação de pagamento em ouro.