Ministério não sabia de ameaças a servidor da Funai, garante ministra

Servidor da Funai e jornalista inglês desapareceram na Amazônia neste o domingo; indigenista era alvo de ameaças, segundo comunidade 

Jornalista Dom Phillips. Foto: Reprodução/Twitter

A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Cristiane Britto, disse que a pasta acompanha o caso do desaparecimento do indigenista da Fundação Nacional do Índio (Funai) Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian. Ambos sumiram neste domingo no Vale do Javari, no Amazonas, quando faziam o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, distante 1.135 km de Manaus.

“Tomamos conhecimento do caso hoje, o que sei ainda é que as autoridades estão investigando. Estamos atentos, mas precisamos aguardar as investigações, o que agora é o mais importante para chegar até eles”, disse a ministra ao R7. Segundo a chefe da Pasta, o Ministério não havia sido informado sobre as ameaças que o servidor da Funai vinha sofrendo na região e minimizou as críticas de organizações indígenas, que denunciaram o aumento da violência contra povos originários e ambientalistas na Amazônia.

Segundo lideranças da região, o servidor da Funai passou a ser alvo de ameaças vindas de garimpeiros e madeireiros na última semana. O Vale do Javari, no extremo oeste do Amazonas, fica próximo à fronteira com o Peru e abriga ao menos 14 grupos isolados — a maior população indígena não contatada do mundo.

“Esse governo é o que mais tem protegido os indígenas em todas as suas especificidades. A mulher indígena, quando a gente fala do combate à violência doméstica; a criança indígena, quando a gente fala das crianças que nascem com algum tipo de doença e que são sacrificadas. Nunca se falou nisso e esse é o governo que tem protegido as crianças e as mulheres”, comentou a ministra.

Segundo a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), diversas outras ameaças às equipes da Funai e de organizações que protegem os indígenas já foram relatadas à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal (MPF), ao Conselho Nacional de Direitos Humanos e à organizações internacionais com atuação nessa área.

O MPF instaurou um procedimento administrativo e acionou a Polícia Federal, a Polícia Civil, a Força Nacional, a Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari e a Marinha após ser comunicado do sumiço do indigenista e do jornalista. O Exército e a Polícia Civil seguem fazendo buscas.

Desaparecidos na Amazônia
Bruno e Dom saíram de Atalaia do Norte para visitar a equipe de vigilância indígena do Lago do Jaburu na sexta-feira. O retorno ao município era previsto para o domingo de manhã. Segundo a Funai, Bruno Araújo não fazia parte de “missão institucional”. De acordo com o órgão, embora ele ainda integre o quadro da fundação, havia pedido “licença para tratar de interesses particulares”.

Os dois viajaram uma embarcação nova, com 70 litros de gasolina — o suficiente para a viagem — e sete tambores vazios de combustível. Por volta das 6h do domingo, eles chegaram à comunidade São Rafael, onde encontrariam uma liderança local. Sem conseguir localizar o morador, decidiram voltar a Atalaia do Norte, viagem que dura cerca de duas horas. Contudo, não chegaram ao local.

“Às 14h, saiu de Atalaia do Norte uma primeira equipe de busca da Univaja, formada por indígenas extremamente conhecedores da região. A equipe cobriu o mesmo trecho que Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips supostamente teriam percorrido, mas nenhum vestígio foi encontrado”, detalha o comunicado da Univaja.

Bruno é indigenista especializado em povos indígenas isolados e conhecedor da região, onde por cinco anos exerceu o cargo de coordenador regional. Já Phillips mora em Salvador, na Bahia, e produz reportagens sobre o Brasil há 15 anos para o New York Times e o Washington Post, bem como para o The Guardian.

Segundo informações divulgadas pelo jornal, a embaixada britânica no Brasil também acompanha o caso.