Empresas e trabalhadores divergem sobre possibilidade de nova greve dos caminhoneiros no RS

Novo reajuste no diesel anunciado pela Petrobras causou apreensão no setor de transporte

Foto: Thomaz Silva/Agência Brasil

O reajuste de 8,87% no preço do diesel para as distribuidoras, anunciado pela Petrobras e válido desde a última terça-feira, provocou apreensão no setor de transporte, e o temor de nova paralisação dos caminhoneiros, inclusive no Rio Grande do Sul. O movimento em direção a uma greve começou nesta semana no Espírito Santo, onde o Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens (Sindicam/ES) disse, em nota, que a “situação dos autônomos ficou insustentável depois de tantos reajustes”, sinalizando ainda apoiar uma eventual suspensão das atividades.

Até este momento, no entanto, não há indicativo de que os caminhoneiros capixabas paralisaram de fato, segundo afirmou a Confederação Nacional dos Caminhoneiros e Transportadores Autônomos de Bens e Cargas (Conftac), por intermédio do presidente, André Luis Costa, que também dirige a Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul (Fecam). Já o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), o gaúcho de Ijuí Carlos Alberto Litti Dahmer, afirmou que a entidade está “se movimentando”.

Sem revelar o teor do que vai ser discutido, Dahmer citou “importantes reuniões” marcadas para este sábado e a próxima terça-feira para definir ações. “Sou favorável a uma reação forte”, comenta.

O motorista de aplicativo Marcelo Rosa, de Cachoeirinha, é administrador de um grupo no Facebook que reúne caminhoneiros com mais de 320 mil membros, bem como outro menor, no Telegram. Na opinião dele, “a greve sempre foi política”. O próprio Marcelo, ex-caminhoneiro, conta que deixou a atividade por volta de 2018, por motivos alheios à grande greve do setor do transporte, que naquele ano provocou transtornos por 11 dias em todo o Brasil. Rosa disse acreditar que “20% querem fazer greve, mas a maioria não quer”, embora haja “um movimento” em direção a uma provável paralisação.

A Petrobras justifica o atual aumento do diesel dizendo que há uma redução de oferta frente à demanda mundial e sensível redução dos estoques globais do combustível. Alega ainda que esse é o primeiro reajuste em 60 dias, fazendo com que o preço médio de venda às distribuidoras tenha passado de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro.

O que dizem as empresas

Para o presidente da Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas no Rio Grande do Sul (Sistema Fetransul), Afrânio Rogério Kieling, o aumento do diesel não é apenas uma tendência nacional, mas global. Ele garante ainda que a entidade acompanha as mobilizações. Sobre a sugestão de greve, ele disse, hoje, não ver chance de que ocorra.

Já Costa, que preside a Fecam, avalia que o movimento é “político”, considerando o contexto de aproximação das eleições e o eventual descolamento de lideranças desses grevistas, a fim de impulsionar candidaturas que defendem.

Ainda conforme ele, a pandemia e a guerra na Ucrânia são fatores importantes, “mas não podem ser utilizadas como desculpa interna”. “Há uma questão estrutural que vem se arrastando há muitos anos”, reforça. “É um pouco delicado uma paralisação acontecer neste momento. Precisamos estruturalmente ver o que é possível fazer. Temos que ter serenidade para que se possa buscar uma solução para o mercado”, opina.

Já a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) se manifestou, em um comunicado técnico, dizendo que o mais recente aumento acarreta a necessidade de reajuste emergencial de, no mínimo, 3,1% no valor dos fretes.