A ex-chefe do Cerimonial do Ministério da Educação (MEC) Vanessa Reis Souza afirmou nesta quarta-feira, na Comissão de Educação do Senado, que informou ao ex-ministro da Educação Milton Ribeiro sobre uma denúncia recebida por ela no município de Nova Odessa, em São Paulo. De acordo com ela, a denúncia partiu de um prestador de serviço da prefeitura, após um evento realizado pelo ministério na cidade.
O homem em questão se queixou da conduta de uma equipe que havia chegado no evento antes dos servidores do MEC. Após as denúncias, em agosto do ano passado, Vanessa afirmou que levou as informações ao ex-ministro Milton Ribeiro, e ele se reuniu com o denunciante no dia 16 de setembro, segundo agenda oficial.
“Após o evento, eu fui procurada por um senhor que ajudou na montagem do evento. Ele disse: ‘Estou muito feliz em conhecer uma equipe do ministério, porque destoa bastante de uma equipe que veio antes'”, contou. Segundo a ex-servidora, o homem relatou que “algumas pessoas vieram antes e fizeram pedidos” que o deixaram desconfortável.
O suposto interlocutor da prefeitura não citou exatamente o nome dos dois pastores alvos de denúncia, Arilton Moura e Gilmar Santos. A comissão apura a atuação dos dois pastores após denúncias de que ambos vinham atuando no sentido de direcionar recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) a municípios mediante acordos com prefeitos. Alguns confirmaram na comissão que o pastor Arilton chegou a pedir propina em dinheiro e ouro.
O R7 mostrou que em outubro do ano passado, o ministro participou de um evento religioso com os pastores Arilton e Gilmar, e que na ocasião os chamou de “amigos”. Ribeiro depois afirmou em entrevista que antes disso, ainda em agosto, já havia pedido uma investigação formal à Controladoria-Geral da União (CGU) sobre as suspeitas de tráfico de influência em prol dos dois pastores, ambos sem cargo público no governo.
Vanessa Reis, que atualmente é servidora no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), afirmou que o homem em questão, em Nova Odessa, disse que os pedidos denunciados não foram feitos pela comitiva do MEC. De acordo com ele, a equipe que chegou antes a Nova Odessa pediu a emissão de passagens, hospedagens e alguns outros benefícios que ele não quis detalhar.
“Levei o que me foi relatado ao ministro da Educação. Ele disse que poderia marcar uma agenda e que fazia questão de receber. Eu não me aprofundei no que ele [o denunciante] queria, porque eu não sou do controle e fiscalização”, disse Vanessa.
A ex-servidora do MEC afirmou que, em janeiro de 2021, teve conhecimento, pela primeira vez, da presença dos pastores no MEC. De acordo com ela, em todos os eventos em que participou com eles, ambos faziam orações. Vanessa ainda disse que os eventos eram, oficialmente, sempre organizados pelas prefeituras.
De 45 eventos organizados pelo cerimonial do MEC para atendimentos aos prefeitos, a ex-servidora aponta que os pastores participaram de aproximadamente nove. Ela também explicou que nessas ocasiões, os pastores, mesmo sem cargo no governo, frisaram a importância de o ex-ministro visitar os municípios e levar técnicos do FNDE para atender ao máximo de prefeitos possível.
No início do mês passado, três prefeitos ouvidos na Comissão de Educação relataram que houve pedido de dinheiro e até de ouro por parte do pastor Arilton, em troca da liberação de recursos da Educação.