Paixão de Cristo no Morro da Cruz reúne 10 mil pessoas em Porto Alegre

Evento, tradicional no calendário religioso da capital, ficou dois anos suspenso em razão da pandemia

Foto: Matheus Piccini/CP

Com público estimado em 10 mil pessoas, conforme a prefeitura, a procissão da Paixão de Cristo até o Morro da Cruz voltou a marcar a Sexta-Feira Santa, na zona Leste de Porto Alegre. O evento, tradicional no calendário religioso da capital, ficou dois anos suspenso em razão da pandemia de coronavírus.

A caminhada teve mudanças no formato, mantendo a emoção e o simbolismo da data. Pela primeira vez, moradores da região puderam se inscrever para carregar a cruz até o alto do morro. Cada uma percorria 33 metros, em alusão à idade de Cristo quando morreu na cruz. Ao todo, cerca de 70 personagens foram interpretados, entre romanos, tamboreiros e penitentes.

A programação se iniciou com uma celebração religiosa no Santuário São José do Murialdo, que atraiu centenas de pessoas. Do lado de fora, a movimentação de pessoas era igualmente intensa.

A procissão também contou com a realização de um rito cênico, em vez da tradicional Via Sacra. No alto, todos foram recepcionados pela Orquestra de Câmara L’Estro Armonico.

Há 40 anos interpretando a figura de Jesus Cristo, o vereador Aldacir Oliboni classificou a procissão como “um momento de reflexão”. “Estamos trazendo aqui uma mensagem de paz. A Covid-19 mexeu com muitas famílias, e é difícil encontrar pessoas que não perderam alguém. Um dia como hoje também é uma forma de fortalecer nossa fé”, afirmou.

Para o secretário municipal de Cultura, Gunter Axt, “a procissão dialoga intimamente com a identidade da cidade”. “É fundamental que tenhamos um diálogo muito próximo com as manifestações populares. Algo que merece ser destacado e apoiado por nós. Religar a cidade depois de dois anos de reclusão não é fácil, e há toda uma reorganização das equipes”, disse Axt.

O coordenador de Descentralização da Cultura, Camilo de Lélis, que dirige o espetáculo há 29 anos, afirmou estar feliz pela retomada. “Não são artistas aqui, são cidadãos comuns. Conheço a população daqui desde pequeno, e vai se criando uma grande família. O povo quer demonstrar a sua fé, é a vontade deles”, opinou.

O prefeito Sebastião Melo também esteve presente, acompanhado da primeira-dama Valéria Leopoldino. “É um momento de muita esperança, de sentido comunitário. Nossa cidade está vivendo uma insegurança terrível, com briga de facções, drogadição, então é o Brasil que não queremos. Que a Páscoa possa nos ajudar a mostrar um outro sentido, da vida, da paz, da alegria e do respeito ao próximo”, comentou Melo.

Valdiceu da Silva, de 71 anos, ajudou a carregar a cruz. Ele contou que, há 30 anos, participa do evento. “Enquanto eu tiver forças, faço questão de participar”, disse o morador.