O setor industrial está passando por uma crise inédita que as estatísticas não conseguem mostrar: a situação atual e dos acordos coletivos de trabalho. A avaliação é resultado de um levantamento que a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS) realizou com depoimentos de 30 atividades fabris e com a participação de 63 dirigentes da entidade.
O levantamento identificou uma dispersão de situações que correspondem às particularidades de cada segmento industrial e à diversidade, como um todo, do parque fabril do Rio Grande do Sul. Pelo desempenho obtido em 2021 e início de 2022 das 30 atividades, 10 apresentaram com desempenho em queda, outras 10 ficaram estáveis, 7 cresceram, e 3 impossíveis de comparativos pelo ano atípico que foi 2021.
“As estatísticas, por trabalharem com “médias”, não conseguem expressar o que está ocorrendo nas indústrias. Por isto, resolvemos fazer uma ampla e detalhada coleta de depoimentos”, disse o presidente da FIERGS, Gilberto Porcello Petry. “A situação que descobrimos leva a um alerta muito sério diante da situação atual e dos acordos coletivos de trabalho que estarão sendo negociados este ano”, comentou.
Ao coletar os depoimentos, foi apurada uma conjuntura de tantas variáveis que tornam inviável qualquer prognóstico para o comportamento industrial este ano a partir dos seguintes fatores: desorganização das cadeias de suprimento; escassez e alto custo de matérias-primas; inflação interna ainda da pandemia somada à inflação externa da guerra da Rússia com a Ucrânia; disparada dos preços de fretes no exterior e nacionalmente; altos juros; câmbio irregular; e tudo isto levando a um momento de perplexidade sem condições de prever o desempenho ao longo deste ano.
“O que temos, então, são várias crises que vão se sobrepondo. Temos, por exemplo, uma inflação dupla no Brasil: aquela ainda originária da pandemia e a nova elevação de custos da guerra. Há uma desorganização total dos fornecedores, assim como a astronômica elevação de custos de transporte e contêineres. Isto retira qualquer chance de previsibilidade para as empresas”, acentuou Petry.
O presidente da FIERGS destaca que nos depoimentos apareceu uma nova classificação de desempenho, que são os “setores travados”, ou seja, estão imobilizados ou por falta de insumos, ou por falta de mercado, ou por não conseguirem calcular margens seguras para suas vendas, parando de comercializar os produtos. Outra questão está no fato de que muitas indústrias que fabricam bens por encomenda têm pedidos fechados, mas não sabem se haverá lucro ao entregar os produtos finalizados aos seus clientes.
“Essa instabilidade de múltiplas situações leva a um sinal de alerta a todos os Sindicatos industriais para cuidarem muito as negociações coletivas este ano. Não é difícil prever que nem o INPC poderá ser atingido”, disse Petry.