O ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite rebateu declarações do agora também ex-governador de São Paulo, João Doria, na noite desta quinta-feira. Depois de receber duras críticas do colega tucano sobre uma suposta manobra para tomar dele a indicação do PSDB à presidência da República, Leite disse não ver “o menor cabimento” no comentário de Doria. Mais cedo, o paulista pediu que o correligionário não se alie a quem gosta de “golpear”.
Em uma conversa com a imprensa após a transmissão de cargo para Ranolfo Vieira Júnior, que assume o Palácio Piratini até o fim do ano, Leite disse ter comandado uma gestão que é “exemplo de democracia no país”. Ele também voltou a negar que tenha interesse em tirar a legitimidade das prévias, vencidas pelo ex-governador de São Paulo em novembro do ano passado.
“Não tem absolutamente nenhum questionamento sobre a legitimidade das prévias. Então, continua o jogo onde ele sempre esteve. O partido fez as suas prévias, existe um pré-candidato colocado, que é o governador João Doria, mas há uma discussão que reúne várias forças políticas”, explicou.
Após o evento em que renunciou ao governo paulista, Doria comparou o movimento liderado pelo gaúcho com o golpe militar de 64, que completou 58 anos nesta quinta. “Quero lembrar a Eduardo Leite que hoje é dia do golpe militar. Não caminhe por essa linha, Eduardo. Compreenda a sua juventude. Não queira se associar àqueles que gostam de golpear”, declarou.
Durante o dia, Doria comentou com membros do partido que tinha intenção de abrir mão da condição de pré-candidato e que podia, inclusive, trocar de legenda. O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, emitiu, então, no início da tarde, uma carta ao diretório paulista confirmando que a indicação de Doria à Presidência da República permanecia de pé.
Sobre a carta, Eduardo Leite voltou a negar que tenha trabalhado para tirar a legitimidade da decisão interna do PSDB. Em seguida, relembrou o que o próprio João Doria disse no passado. “O próprio governador [Doria] colocou, em outro momento, a sua busca por apoio com outros partidos e que, lá adiante, se for o caso, [pode] fazer o movimento em direção a uma candidatura que, antes de tudo, é brasileira. Eu aposto nesse sentimento e nesse espírito, que é o mesmo que eu tenho. E que se houver a confirmação e a sua capacidade de liderar um grupo político, eu estarei ao lado ajudando”, revelou.
O ex-governador também lembrou que há um prazo de ao menos três meses até as convenções do partido, e que confia que, até lá, Doria tome a “decisão mais correta para ajudar a construir uma terceira via”. Perguntado se considera que o paulista subiu o tom, Leite descartou responder nas mesmas condições.
“Nunca viram aqui no Rio Grande do Sul eu tentar desqualificar um adversário, um oponente, alguém que divergia das nossas reformas, das privatizações (…) Nós vencemos em cada um dos projetos pelos argumentos, por sustentar as nossas ideias, e convencer as pessoas que o nosso projeto era bom, era positivo. É com esse mesmo espírito que nós vamos para o debate dentro do PSDB, o que é da democracia também. Democracia não é apenas a oportunidade da eleição, é a necessidade do eleito conviver com a divergência”, afirmou.
Ranolfo governador
Aos 55 anos, Ranolfo Vieira Junior é o 27ª governador do Rio Grande do Sul. Vice na chapa vencedora em 2018, ele assume o governo do RS até dezembro. Natural de Esteio, o novo governador é servidor público há 36 anos e atuou ao lado de Leite desde 2019. Durante a gestão, além do cargo de vice, acumulou a Secretaria de Segurança Pública, pasta pela qual anunciou diversos incrementos, principalmente em estrutura policial, como viaturas, armas, equipamentos e reposição de efetivo.
No cargo de governador, Ranolfo não vai contar com um vice. Caso se ausente, para uma viagem por exemplo, a presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira, é quem deve atuar como governadora interina. O presidente da Assembleia é o primeiro da linha sucessória. Porém, Valdeci Oliveira (PT) pretende disputar a reeleição e, com isso, não pode assumir o Piratini.