Em carta, Milton Ribeiro fala que sai do MEC com “coração partido”

Ex-ministro é investigado por suposto favorecimento de pastores dentro da pasta; denúncias vieram à tona na semana passada

Foto: Cleia Viana / Câmara dos Deputados

Alvo de inquérito da Polícia Federal (PF) por suposto favorecimento de pastores dentro do Ministério da Educação e escanteado por lideranças e parlamentares religiosos, o ministro Milton Ribeiro pediu exoneração do cargo nesta segunda-feira durante reunião com o presidente Jair Bolsonaro. Em carta, entregue ao chefe do Executivo, Ribeiro alega que pediu para sair para que “não paire nenhuma incerteza” sobre a conduta dele e do governo federal. No documento, também se despede deixando o compromisso de estar pronto para apoiar Bolsonaro, caso ele entenda necessário.

“Levando em consideração os aspectos citados, decidi solicitar ao Presidente Bolsonaro a exoneração do cargo de ministro, a fim de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e do Governo Federal. Meu afastamento visa, mais do que tudo, deixar claro que quero uma investigação completa e isenta”, afirmou.

O ministro falou ainda que preza pela verdade. “Tomo esta iniciativa com o coração partido. Prezo pela verdade e sei que a verdade requer tempo para ser alcançada. Sei de minha responsabilidade política, que muito difere da jurídica. Minha decisão decorre exclusivamente de meu senso de responsabilidade política e patriotista, maior que quaisquer sentimentos pessoais”, pontuou.

Ribeiro vem sofrendo desgastes desde que o jornal O Estado de S.Paulo revelou a existência de um “gabinete paralelo” dentro do Ministério da Educação (MEC) com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que agiam direcionando recursos públicos a determinados benefícios cobrando suposta propina.

Dias depois, a Folha de S.Paulo publicou um áudio no qual o ministro declara expressamente que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro, prioriza o direcionamento de verbas a determinados municípios após solicitação do pastor Gilmar Santos.

“Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar. Porque foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão de Gilmar. Apoio. Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas”, menciona Ribeiro no áudio.

Na carta, o ex-ministro voltou a repetir que após tomar conhecimento, em agosto de 2021, acerca de “uma pessoa” (que ele não cita o nome) que estaria cometendo irregularidades, denunciou o caso à Controladoria-Geral da União (CGU).

“Eu mesmo, quando tive conhecimento das denúncias, em agosto de 2021, encaminhei expediente à CGU para que apurasse as situações narradas pelas denúncias. Mais recentemente, solicitei também à Controladoria que auditasse as liberações de recursos de obras do FNDE, para que não haja duvida sobre a lisura dos processos conduzidos. Cumpre ressaltar que os procedimentos operacionais relacionados à liberação de recursos pelo FNDE não são de competência direta do Ministro da Educação”, afirmou.

Leia a carta completa:

“Desde o dia 21 de março minha vida sofreu uma grande transformação. A partir de notícias veiculadas na mídia foram levantadas suspeitas acerca da prática de atos irregulares em nome do Ministério da Educação.

Tenho plena convicção que jamais pratiquei qualquer ato de gestão que não fosse pautado pela legalidade, pela probidade e pelo compromisso com o Erário. As suspeitas de que foram cometidos atos irregulares devem ser investigadas com profundidade.

Eu mesmo, quando tive conhecimento das denúncias, em agosto de 2021, encaminhei expediente à CGU para que apurasse as situações narradas pelas denúncias. Mais recentemente, solicitei também à Controladoria que auditasse as liberações de recursos de obras do FNDE, para que não haja duvida sobre a lisura dos processos conduzidos. Cumpre ressaltar que os procedimentos operacionais relacionados à liberação de recursos pelo FNDE não são de competência direta do Ministro da Educação.

São quatro os pilares que me guiam: Deus, família, honra e meu país. Além disso, tenho todo respeito e gratidão ao presidente Bolsonaro, que me deu a oportunidade de ser ministro da Educação do Brasil num momento transformador para a educação brasileira. Registro que, sob a condução do presidente da República, tive a oportunidade de conviver com uma equipe de ministros altamente qualificados e comprometidos com a ética e a probidade públicas.

Assim, levando em consideração os aspectos citados, decidi solicitar ao presidente Bolsonaro a exoneração do cargo de ministro, a fim de que não paire nenhuma incerteza sobre a minha conduta e do Governo Federal. Meu afastamento visa, mais do que tudo, deixar claro que quero uma investigação completa e isenta.

Tomo esta iniciativa com o coração partido. Prezo pela verdade e sei que a verdade requer tempo para ser alcançada. Sei de minha responsabilidade política, que muito difere da jurídica. Minha decisão decorre exclusivamente de meu senso de responsabilidade política e patriotista, maior que quaisquer sentimentos pessoais.

Agradeço e despeço-me de todos que me apoiaram nesta em preitada, deixando meu compromisso de estar pronto, caso o presidente entenda necessário, para apoiá-lo em sua vitoriosa caminhada.

Brasil acima de tudo!!! Deus acima de todos!!!”