Fiocruz: vacinação infantil contra a Covid-19 é o principal desafio

No grupo de cinco a 11 anos, 60,7% ainda não tomaram a primeira dose

Foto: Alex Rocha/PMPA

A vacinação infantil dos cinco aos 11 anos de idade contra a Covid-19 é o principal desafio do Brasil, segundo a Nota Técnica Diferenciais de Cobertura Vacinal Segundo Grupos Etários no Brasil, divulgada nesta quarta-feira pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A nota aponta ainda que, além das crianças, os grupos etários de pessoas com idades entre 12 e 49 anos são os únicos ainda com cobertura de primeira dose abaixo de 90%.

Segundo o documento, o Brasil ocupa atualmente a 12ª posição entre os países do mundo com melhor cobertura vacinal, ultrapassando países como os Estados Unidos e o Reino Unido. Até 12 de março, 81,8% da população havia tomado pelo menos a primeira dose da vacina e 73,9% tinha o esquema vacinal completo, com as duas doses ou dose única. Um terço da população, 32,9%, havia recebido a dose de reforço.

Quando consideradas, no entanto, as faixas etárias separadamente, há diferenças de cobertura vacinal. Entre os adolescentes de 12 a 17 anos de idade, 16,4% não tomaram sequer a primeira dose da vacina. Esse grupo é seguido pelo de 40 a 44 anos de idade, com 15,2% não vacinados, e pelo de 35 a 39 anos de idade, com 13,2%.

Os dados se referem ao período entre 17 de janeiro de 2021 e 12 de março de 2022. A nota, lançada às vésperas dos 14 meses do início da vacinação no Brasil, visa auxiliar a criar estratégias para aumentar a eficiência da campanha vacinal no país.

Desafios
De acordo com a Fiocruz, atualmente, o maior desafio é a vacinação de crianças de cinco a 11 anos de idade, que correspondem a 9,5% da população brasileira. Nesse grupo, 60,7% ainda não tomaram a primeira dose da vacina. A nota técnica culpa as fake news por causarem insegurança em muitos pais sobre os riscos de vacinar os filhos.

“Os divulgadores de notícias falsas elevaram o tom da especulação, causando insegurança em muitos pais sobre os riscos de vacinar seus filhos”, ressalta a nota.

A aplicação da dose de reforço também chama atenção. Segundo a nota, mesmo com ritmo de ganho em velocidade crescente da dose de reforço, nenhum grupo etário alcançou, até o momento, o patamar de 80% de vacinados com essa dose, nem mesmo os idosos, que foram os primeiros elegíveis à aplicação.

“As internações em leitos clínicos, leitos de UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e óbitos hospitalares têm cada vez mais se concentrado exatamente entre os idosos mais longevos. Desta forma, idosos que não mantêm esquema com reforço em dia estão em situação particularmente perigosa, mesmo com o arrefecimento da incidência e mortalidade na população como um todo”, salienta a nota técnica.

Recomendações
Segundo os pesquisadores, o contexto atual da pandemia no mundo requer atenção. Ao mesmo tempo que há grande especulação e expectativa do rebaixamento do status de pandemia a endemia por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS), observa-se uma alta da Covid em países da Europa e da Ásia. Isso, de acordo com eles, deve ser encarado como um alerta para o Brasil. Além disso, o documento defende que é preciso cautela na tomada de decisões pelos gestores, especialmente na flexibilização do uso de máscaras e relaxamento do distanciamento físico.

“Sem a devida proteção [uso de máscaras e vacinação em dia], a reunião de pessoas de forma descontrolada pode ser o estopim para novo aumento da transmissão e ocorrência de surtos. A experiência de outros países que flexibilizaram o uso de máscaras em cenários de cobertura vacinal abaixo de 90% pode servir de alerta para que o Brasil não incorra no mesmo erro”, alerta a Fiocruz.