Fiocruz considera prematura retirada de máscaras e passaporte vacinal

Dose de reforço chegou a 31,2% da população brasileira, até o momento

Foto: Mauro Schaefer/CP

O relaxamento de medidas protetivas contra a Covid-19, como o uso de máscaras em locais fechados de forma irrestrita, é prematuro, revela boletim do Observatório Covid-19, divulgado nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os pesquisadores dizem que as próximas semanas serão fundamentais para entender a dinâmica de transmissão da doença e que ainda não é possível avaliar o efeito das festas e viagens no período do Carnaval.

“Flexibilizar medidas como o distanciamento físico (controlado pelo uso do passaporte vacinal) ou o abandono do uso de máscaras de forma irrestrita colabora para um possível aumento, e não nos protege de uma nova onda”, salienta o boletim. “Atualmente, o ideal é voltarmos ao padrão do início da pandemia, quando recomendávamos fortemente o uso de máscaras, higienização de mãos e evitar as aglomerações”, sugerem os pesquisadores.

O texto avalia, ainda, que as medidas de mitigação tomadas até então para controlar a pandemia ocorreram de forma tardia, quando as ondas de contágio já haviam se instalado, e não de forma proativa, para impedir a proliferação do vírus.

“Isto significa dizer que o custo humano para chegarmos ao patamar atual foi a perda de 650 mil pessoas, desnecessariamente. Dito isso, reforçamos que o relaxamento prematuro das medidas protetivas, assim como não investir na motivação da população sobre a vacinação, significa abandonar a história de tantas vidas perdidas”, prosseguem os pesquisadores. “Portanto, é importante garantir que as medidas de relaxamento sejam adotadas em tempo oportuno, sob risco de retrocesso nos ganhos obtidos no arrefecimento da pandemia”.

O potencial de transmissibilidade da variante ômicron, com capacidade muito maior de escapar dos anticorpos produzidos por infecções ou duas doses das vacinas, ressaltou a importância da dose de reforço para todos os adultos, enfatiza a Fiocruz.

“No Brasil, a dose de reforço já foi aplicada em 31,2% da população. O esquema em duas doses se encontra em um patamar de 73%. É fundamental, portanto, avançar na cobertura vacinal com as três doses para a população elegível até o momento (adultos acima de 18 anos)”, complementa o boletim.

Os pesquisadores se referem, também, um estudo recente que sugere que o uso de máscaras deve ser mantido por duas a dez semanas após a meta de cobertura vacinal ser atingida, entre 70% e 90%. Com o surgimento da variante ômicron e a maior capacidade de escape dos anticorpos, o boletim cita que as máscaras ficaram ainda mais importantes.

“A vacinação por si só não é suficiente para controlar a pandemia e prevenir mortes e sofrimento, é fundamental que se mantenha um conjunto de medidas combinadas até que o patamar adequado de cobertura vacinal da população alvo seja alcançado”, menciona a publicação.

Casos e óbitos

O cenário atual é de descida nas curvas de casos e óbitos após o pico da variante ômicron no Brasil. A Fiocruz alerta, porém, que a redução da incidência após o pico sempre ocorre de forma mais lenta que a subida da curva.

Além da queda nos casos, a Fiocruz mostra que também há uma ligeira redução no índice de positividade dos testes RT-PCR para Covid-19. Devido a isso, a expectativa é que as próximas semanas mantenham a redução dos indicadores mais preocupantes: a mortalidade e as internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).

Quarta dose

O boletim ressalta que metade dos óbitos ocorre atualmente em pessoas com no mínimo 78 anos, o que indica a maior vulnerabilidade desse público às formas graves e fatais da Covid-19. Diante disso, os pesquisadores defendem a necessidade de aplicação de uma quarta dose nesse grupo, seis meses após a aplicação da dose de reforço.

Além disso, a Fiocruz aponta um crescimento na proporção de crianças com Covid-19 em relação ao total de infecções. “A maior vulnerabilidade das crianças, provocada principalmente pela baixa adesão deste grupo à vacinação, compromete igualmente o grupo que se encontra no extremo oposto da pirâmide etária”, dizem os pesquisadores.