O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que, no momento, não tem o que dialogar com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, sobre a guerra pela qual o país passa, com invasões de tropas militares da Rússia.
“Alguns querem que eu converse com o presidente da Ucrânia. No momento, não tenho o que conversar com ele. Eu lamento aqui. Se depender de mim, não teremos guerra”, comentou Bolsonaro.
Nesta segunda-feira, o encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, afirmou que Bolsonaro está “mal informado” e sugeriu que ele conversasse com Zelensky para mudar a orientação de neutralidade em relação ao conflito entre os países europeus.
Bolsonaro, no entanto, disse que não vai tomar partido. Ele lembrou que a Rússia já defendeu o Brasil diante de críticas da comunidade internacional pela alta no desflorestamento da Amazônia na sua gestão, e que, por isso, não pode virar as costas para os russos.
“Quando se discutiu, em mais de um momento, questões climáticas no mundo, países do lado de cá, lá da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte] queriam decidir que a autonomia da Amazônia não seria mais nossa, deveria ser administrada por um pool de países do mundo. Quem ficou do nosso lado e falou que a Amazônia é dos brasileiros foi o presidente [da Rússia, Vladimir] Putin”, justificou o presidente.
Segundo Bolsonaro, por conta disso, o Brasil não pode ficar do lado que se opõe à Rússia. “A gente vai construindo relacionamentos que a gente pretende que sejam duradouros. Se o pessoal do lado de cá, EUA, França e Reino Unido, querem relativizar a soberania da Amazônia, a área mais rica do mundo, e do outro lado tem alguém colaborando conosco, vamos abrir mão disso? Não.”
“Vamos agora assumir o lado daqueles que querem a todo custo relativizar a soberania da Amazônia ou vamos ter equilíbrio e esperar as coisas acontecerem?”, acrescentou o presidente.
Prejuízos ao agronegócio
Bolsonaro ainda falou sobre uma resolução contra a Rússia que deve ser votada pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) nos próximos dias. Segundo ele, o país trabalha com o representante permanente do Brasil junto à ONU, embaixador Ronaldo Costa Filho, “de modo que o Brasil não seja um dos poucos prejudicados nessa questão”.
O presidente lembrou que a Rússia é um importante parceiro comercial do Brasil na venda de fertilizantes, e que um eventual problema nessa relação pode interferir no agronegócio brasileiro.
“Se prejudicar nosso agronegócio, pois o agronegócio é a locomotiva da nossa economia, como ficamos? Como fica nossa segurança alimentar? Sem fertilizante no Brasil, a gente perde produtividade. Como fica a inflação de alimentos? Nós vamos tentar resolver um assunto criando outro também grande? Nós não queremos naufragar na questão do agronegócio”, ponderou.
As falas de Bolsonaro foram feitas em entrevista à Jovem Pan.