Parentes relatam angústia com situação na Ucrânia

Conforme o Itamaraty, cerca de 500 brasileiros vivem na região invadida por tropas russas

Foto: Ricardo Giusti/Correio do Povo

“Eu não tenho dormido. Não tem como”. A frase é da filha de refugiados da Segunda Guerra Mundial, a psicóloga canoense Olga Schtscherbyna, 56. Os pais, Iwan e Lídja, já falecidos, saíram a pé da região de Kharkiv, cruzando a Ucrânia até chegar à Polônia durante aquele conflito, indo depois para a Alemanha. As histórias que contavam ganham eco no atual cenário geopolítico com a invasão da Rússia ao país natal de seus parentes. “O que eu ouvi com detalhes por 50 anos dos meus pais, da trajetória deles até chegar a um país que os acolheu e ofereceu uma vida com dignidade, é muito parecido com o que está acontecendo agora”, lamenta Olga.

Duas primas, moradoras de Kharkiv, chegaram a relatar o momento vivido na Ucrânia. “Estão apavorados e com mudo medo. Mas a fé do povo ucraniano é imensa e é nisso que eles se sustentam. Quem tem casa com abrigos subterrâneos ficam lá direto, quem não tem se abriga no metro para tentar se proteger dos bombardeios”, relata.

O avô de Olga já havia morrido na Primeira Guerra Mundial, o que deixou marcas na família. “O meu pai tinha uma regra: ir o mais longe possível para garantir a sobrevivência da família”, conta. Quando foi oferecida a oportunidade de vir para o Brasil, Estados Unidos ou Canadá, Iwan optou pelo nosso país. A família se estabeleceu em Canoas, onde Olga vive até hoje. A opção de Iwan pelo Rio Grande do Sul se deu seguindo a mesma regra de se distanciar dos conflitos armados.

Na última quarta-feira, antes do bombardeio russo, mas já com eminência de conflito, a comunidade ucraniana de Canoas realizou uma manifestação pela paz na Igreja Ortodoxa Ucraniana da Santíssima Trindade, no bairro Niterói. Cerca de 20 integrantes da comunidade, usando trajes típicos com os bordados tradicionais da cultura ucraniana participaram do evento.

Nascida em Lviv, região no Oeste da Ucrânia e por isso mais afastada da fronteira com a Rússia, a aposentada Maria Kohut, 80, é naturalizada brasileira, moradora de Porto Alegre, mas se encontra em Mariluz, no Litoral Norte. Os pais de Maria deixaram Lviv quando ela tinha 11 meses de idade. Quando a aposentada completou sete anos, a família deixou a Europa, vindo para o Brasil.

No entanto, ela sempre manteve contato com os parentes. Dos sete primos, quatro ainda são vivos e moram em sua cidade natal. “Leio e escrevo em ucraniano e nunca perdi contato com meus familiares. Em 2017 tive a maior alegria do mundo ao ir para lá e conhecer meus parentes”, conta.