Vacinação contra a Covid no Brasil dá sinais de estagnação

Especialistas destacam que curva de doses aplicadas atingiu platô, mas em patamares diferentes de acordo com cada estado

Foto: José Cruz/ABr

Além de uma cobertura vacinal contra a Covid-19 menor do que Chile, Argentina e Uruguai, o Brasil começou 2022 com sinais de uma campanha de imunização estagnada em patamares desiguais.

Enquanto São Paulo estabilizou a curva de vacinados com duas doses em 87% da população elegível, no Amapá, são apenas 57,7% – uma discrepância que se repete em outros estados.

Entre 18 de janeiro e 18 de fevereiro, o percentual da população que havia tomado a primeira dose foi de 76,1% para 79,8%. Em 18 de dezembro, eram 75,2%.

Dados do projeto @CoronavirusBra1, coordenado pelo pesquisador Wesley Cota, mostram que a aplicação diária de primeiras doses de vacinas anti-Covid atingiu picos em junho e agosto do ano passado e passou a cair desde então, voltando a crescer com o início da vacinação de crianças de 5 a 11 anos a partir de meados de janeiro deste ano.

Apesar disso, 43,1 milhões (21,7%) de indivíduos elegíveis não haviam tomado uma dose sequer até 18 de fevereiro, mostram números do Ministério da Saúde compilados pelo R7.

Deste contingente, 15,9 milhões são crianças entre 5 e 11 anos. A campanha para este grupo enfrenta dificuldades pela falta de vacinas. Na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a imunização foi suspensa nessa quinta-feira .

Já a taxa de vacinados com duas doses foi de 69,1% para 72,7% no mesmo período. Cerca de 23 milhões de pessoas ainda não tomaram a segunda dose, seja por não terem completado os quatro meses de intervalo ou por atraso.

Para a médica Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), é preciso observar que algumas regiões chegam a um platô de vacinação em um patamar elevado, o que não ocorre em outras.

“Nos locais onde não existem problemas estruturais, o planejamento é melhor e chegam vacinas, é claro que o platô vai existir a partir do momento em que você atinge o objetivo. Os municípios onde têm baixíssima cobertura estão concentrados no Norte e Nordeste, onde há problemas de acesso, são locais com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) baixo”, destacou.

O Amazonas tem 57,7% da população com esquema vacinal completo; no Acre, são 55%, mesmo patamar do Maranhão. Em Roraima, a cobertura é de 45,6%.

Por outro lado, além de São Paulo, que lidera o ranking de vacinados, estados como Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo, Piauí, Sergipe, Ceará, Paraíba, Mato Grosso do Sul, e o Distrito Federal têm mais de 70% de suas populações com duas doses da vacina.

O professor Expedito José de Albuquerque Luna, pesquisador do Laboratório de Epidemiologia/Virologia, do Instituto de Medicina Tropical da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) chama atenção para a região Norte.

“Uma região que claramente vai mal é a região Norte, que tradicionalmente tinha serviços de saúde mais precários e que estados dependiam muito do governo federal. Ações na floresta, em comunidades indígenas, sempre foram executadas com patrocínio do Ministério da Saúde”, explicou. O médico também reforçou que as desigualdades podem ocorrer até mesmo dentro dos estados, com capitais tendo uma cobertura vacinal maior do que cidades do interior.

Atualmente, 40 milhões de brasileiros não tomaram nenhuma dose e outros 23 milhões receberam apenas uma dose. Os dois especialista alertam que essas pessoas estão sujeitas a desenvolver formas graves da Covid-19 no momento em que a variante Ômicron ainda circula com forte intensidade no país.