Pesquisa revela que os alunos brasileiros estudaram menos durante a pandemia

Estudo da FGV mostra que a evasão escolar cresceu no país, o tempo dentro da escola diminuiu e 12% do alunos não receberam atividades escolares no período

Foto: Alina Souza / CP

Crianças e adolescentes em idade escolar passaram a estudar menos desde o início da pandemia. É o que demonstra a pesquisa “Retorno para escola, jornada e pandemia”, feita pela FGV Social. Marcelo Côrtes Neri, um dos autores, indica que, entre os principais resultados, está o fato de que as crianças mais novas foram as mais afetadas, e o tempo de estudo dos alunos brasileiros, incluindo horas por semana de atividade remota, teve uma piora ainda maior.

Indicadores da qualidade dos primeiros anos do Ensino Fundamental vinham melhorando desde o início dos anos 90. Um deles era a evasão escolar, índice mais afetado durante a pandemia. “Essa tendência foi revertida, não só no sentido de que aumentou muito, mas também voltou pouco quando a pandemia cedeu. Então, no que o Brasil vinha fazendo mais progresso, foi o que a pandemia afetou mais”, salienta o economista. De acordo com Neri, o Brasil retrocedeu para níveis de evasão escolar equivalentes a 2006, com índice de 4,25% em nível nacional. O índice é 128% maior que o registrado no mesmo trimestre de 2019.

Desigualdade
No RS, esses índices também cresceram. Em 2019, o Estado tinha evasão de 2,43% e, em 2020, o índice aumentou para 4,28%. A lacuna na educação dessa faixa etária pode repercutir no futuro da educação brasileira e aumentar a desigualdade. “É uma fase crítica, principalmente para as crianças mais pobres. A questão da presença escolar nessa faixa etária é onde você consegue equilibrar, de maneira menos precária, a questão de desigualdade de oportunidades”, alerta o especialista.

Tempo na escola
O tempo na escola teve piora ainda maior que a da evasão, com queda de 43% em relação a 2006. Estudantes que permaneceram matriculados reduziram a jornada, mesmo incluindo atividades realizadas em modelo remoto. “Em termos nacionais, nas crianças mais pobres, a jornada escolar caiu duas horas entre 2006 e 2020”, detalha Neri.

No RS, o tempo médio de escola na pandemia para estudantes entre 6 e 15 anos de idade é de 2h14min por dia, o que coloca o RS em 14º lugar no ranking nacional. Na faixa de 15 a 17 anos, são 2h22min por dia útil de estudo – incluindo os não matriculados e, portanto, com tempo zerado. Nas duas faixas etárias o tempo médio de escola ficou na metade do ranking nacional. A jornada escolar no Brasil corresponde a 4 horas por dia de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o que é baixo se comparado a outros países. “O que já era baixo para padrões internacionais caiu à metade durante a pandemia. Então, de fato, as crianças estão estudando pouco”, completa o pesquisador.

Sem atividades
A proporção de alunos que não recebeu atividades escolares remotas na pandemia, na faixa etária entre 6 e 15 anos, ficou em 6,14% no estado, a sétima melhor marca entre as 27 unidades da federação. A média nacional ficou em 12%. Esse índice ajuda a explicar o resultado anterior, já que a ausência de atividades reduz o tempo médio de escola.

O economista aponta para o fato de que as matrículas foram caindo ao longo do ano, por isso defende que a vacinação pode ser importante para normalizar a educação. “O ideal é que no início do ano letivo as crianças já estejam vacinadas para poderem voltar à escola com tranquilidade.”

Para o especialista, um dos grandes desafios de curto prazo é trazer a criança de volta para a escola e o outro é recuperar o atraso. Nesse sentido, observa Neri, pode ser necessário que as escolas adotem ações complementares, como aulas no contraturno, por exemplo. “O ensino remoto pode ser, inclusive, um aliado para ajudar a complementar as tarefas”, sugere.

Censo Escolar Brasil 2020

Segundo o Censo Escolar, em 2020, no Brasil:

  • 2.449 cidades não tiveram nenhuma aula ao vivo ou com interação entre aluno e professor,
  • 1.286 municípios tiveram mais que 50% de aulas ao vivo, 417 cidades tiveram estrutura para oferecer 100% das aulas on-line.
  • O acesso à Internet esteve disponível em 89,4% das escolas da rede federal, 74,1% da estadual e 39,8% da municipal.