Não é hora de discutir 4ª dose anti-Covid, sustenta Sociedade de Imunizações

Ministro da Saúde já havia dito, ontem, que avançar em mais um reforço mais atrapalha do que ajuda

Foto: Alina Souza/CP

Enquanto algumas cidades e estados brasileiros já preveem aplicar a quarta dose para conter a pandemia, especialistas e o Ministério da Saúde convergem: ainda não é a hora de discutir ou indicar mais uma aplicação.

“Não há nenhuma evidência de que temos de dar a quarta dose a ninguém. Se for notado que os indivíduos que receberam as três doses, passado um determinado tempo, começaram a perder a proteção, aí é recomendado o reforço com a melhor vacina que estiver disponível à época”, explica Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

“Hoje, não há nenhuma evidência de perda de proteção. Essa preocupação é completamente extemporânea [fora do tempo apropriado]. É uma discussão que deve ser feita, os profissionais devem ficar de olho nos indicadores. Mas não é o momento de anunciar uma data, como o Governo de São Paulo quer anunciar o dia 4 de abril”, reforça o infectologista.

Nesta quinta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, advertiu que esse tipo de discussão atrapalha. “Essa ansiedade em querer aplicar a quarta dose sem evidência científica também não ajuda no enfrentamento da pandemia. É fundamental avançar a dose de reforço”, reiterou.

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou nota oficial, também nesta sexta-feira, defendendo que a preocupação do Plano Nacional de Imunizações (PNI) deve ser a aplicação da terceira dose.

“Devemos, sim, insistir junto à população que procure os postos de vacinação espalhados em território nacional para que possam ser regularizados o esquema básico e a dose de reforço, a fim de realmente ocorrer benefício no tocante a internação e mortalidade. Esses dados de vida real são bem cristalinos, evidenciando que os pacientes vacinados com três doses geralmente estão apresentando sintomas leves e transitórios. Em contrapartida, aqueles que não fizeram uso do esquema vacinal completo estão sob maior risco de internação e com risco de óbito”, divulgou a SBI por meio da assessoria de imprensa.

O Brasil contabiliza 25,68% da população com o esquema vacinal de três doses completo. O infectologista entende que a preocupação deve estar em aumentar o número de crianças vacinadas e o de adultos com as três aplicações.

“Muitos adultos pegaram a Covid há pouco tempo, por causa da onda da Ômicron, e não puderam tomar a terceira dose. As crianças também foram infectadas e estão se vacinando agora. Temos de nos concentrar nisso agora, e não ficar discutindo bobagem. Querer anunciar uma quarta dose de vacinação atrapalha, não ajuda”, acrescenta o diretor da SBIm.

Além de não ter sido comprovada a queda de proteção imunológica e de o número de brasileiros com a terceira dose ainda ser pequeno, Renato Kfouri salienta que ainda não é possível saber quanto tempo vão durar os efeitos da variante Ômicron.

Também hoje, o corpo técnico da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (Ctai) deve se reunir para discutir o assunto. Foram convidados integrantes da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Secovid) e de outras pastas do Ministério da Saúde, além de representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) e de entidades médicas envolvidas com o tema.