Caso Henry: Jairinho se cala e Monique narra ameaças e agressões

Mãe do menino afirmou que atos de violência eram recorrentes

Foto: Brunno Dantas/TJ-RJ

O ex-vereador Jairo dos Santos Júnior, o Dr. Jairinho, se calou na audiência de interrogatório sobre a morte do menino Henry Borel, realizada nesta quarta-feira, no Rio de Janeiro. Na mesma sessão, Monique Medeiros, mãe do garoto, depôs por mais de 10 horas e relatou agressões físicas do ex-namorado e ameaças de morte que alega estar sofrendo na cadeia.

Os interrogatórios foram realizados pela juíza Elizabeth Machado Louro, da 2ª Vara Criminal da Capital. A audiência começou por volta de 11h com o interrogatório de Jairinho, que optou por permanecer em silêncio, direito previsto constitucionalmente.

Ele afirmou não se sentir preparado para falar e disse que aguarda o acesso a documentos, como exames, imagens do hospital e do Instituto Médico Legal (IML) e folhas de prontuário, para que venha a se manifestar posteriormente.

Em seguida, Monique traçou uma retrospectiva de vida, contando fatos, de modo cronológico, desde a criação em Bangu, as atividades profissionais e o relacionamento com Jairinho, passando pelo casamento com Leniel Borel, pai do menino, e pela crise vivida pelo ex-casal após o nascimento de Henry.

No interrogatório, Monique relatou agressões cometidas contra ela por Jairinho, citando episódios de violência física, verbal e psicológica. Segundo ela, Jairinho chegou a lhe enforcar em determinada ocasião, por um episódio de ciúmes. Da mesma forma, quando ambos tinham relacionamento sexual, também havia atos de enforcamento por parte dele.

Monique relatou também que Jairinho por vezes punha, de forma furtiva, comprimidos na bebida dela, que a faziam dormir. “Teve um episódio que eu vi o Jairinho macerando um comprimido na minha taça de vinho. Perguntei para ele por quê. Ele disse que era para eu poder dormir com ele, quando também ele tomava comprimidos.” Segundo Monique, na noite em que Henry morreu, na madrugada de 8 de março de 2021, Jairinho a acordou dizendo que havia escutado um barulho no quarto onde o menino dormia.

“Ele me acordou, disse que ouviu um barulho, que o Henry caiu no chão. Ele estava descoberto, imóvel, com os olhos olhando para o nada e a boca aberta. As mãos e os pés do Henry estavam geladas. O Jairinho disse que tinha que levar ele para o hospital. Na minha cabeça, o meu filho estava vivo o tempo todo.”

Ameaças
Ela relatou à juíza que está sendo ameaçada de morte na cadeia por outras presas. Da mesma forma, disse que uma agente penitenciária a pressionou, dizendo que ela devia respeitar o pai de Jairinho, deputado estadual Coronel Jairo, que exerce forte influência na zona Oeste do Rio. Também, segundo Monique, uma advogada a procurou na cadeia e pediu a ela para combinar um depoimento semelhante ao de Jairinho, sob ameaça de ficar com “a cabeça a prêmio.”

A sessão se encerrou às 22h, com perguntas feitas pela defesa de Jairinho, mas que não foram respondidas por Monique, por orientação da defesa. Após os interrogatórios, cabe à juíza decidir se Monique e Jairinho vão ou não a júri popular.