Mesmo sob críticas de sociedades médicas e entidades da saúde, o governo federal mantém o alerta para que pais e responsáveis busquem recomendação de pediatra antes de vacinar as crianças contra a Covid-19. O pedido, reiterado pelo Ministério da Saúde, acompanha o anúncio da distribuição de mais 2,5 milhões de vacinas infantis, cuja entrega aos entes federados termina nesta quinta-feira.
No texto divulgado pelo ministério na última terça-feira e atualizado nessa quarta, a pasta confirma que a “orientação é que os pais ou responsáveis por suas crianças procurem a recomendação prévia de um médico antes da imunização”. Para vacinar as crianças entre 5 e 11 anos, o ministério demanda a autorização dos pais, mas não cobra a prescrição médica. Em caso de ausência de pais ou responsáveis, a vacinação deve ser autorizada por um termo de assentimento por escrito, completa o texto.
Antes de acrescentar a vacinação infantil ao Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19 (PNO), o ministro Marcelo Queiroga chegou a anunciar a intenção de incorporar o parecer médico de forma obrigatória, mas, após debate com entidades da saúde e o próprio posicionamento dos cidadãos em consulta pública, o governo voltou atrás.
A medida divulgada pelo ministério é vista por especialistas e membros da comunidade médica como um dificultador à adesão à campanha, já que causa desconfiança dos pais em relação à segurança da imunização, além de gerar uma demanda desnecessária e desigual na procura por pediatras em todo o país.
O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) mantém a posição de descartar a necessidade de apresentação de qualquer documento médico com aval para a vacina. Para a Sociedade Brasileira de Pediatria (SVP), “a população não deve temer a vacina, mas sim a doença que ela busca prevenir”.
Na avaliação do pediatra e infectologista Renato Kfouri, consultor do Comitê Extraordinário de Monitoramento da Covid-19 da Associação Médica Brasileira (AMB), a recomendação levanta dúvidas quanto aos benefícios da vacinação. Mas ele frisa: “Há razões de sobra para vacinar as crianças, sejam elas éticas, sanitárias, epidemiológicas e protecionistas, tanto para a saúde individual quanto coletiva.
A médica pediatra Isabella Ballalai, representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), também alerta sobre o fato de que a falta de incentivo gera dúvidas na população, mas acredita que a cultura vacinal brasileira vai superar essa barreira.