Anvisa recebeu 169 ameaças após recomendar vacina em crianças

Intimidações ocorreram entre 17 de dezembro e a última terça; um dos e-mails tinha vídeo de um cachorro sendo enforcado

Foto: Marcelo Camargo/ABr

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu, na segunda-feira, mais uma ameaça a diretores e servidores que recomendaram a imunização contra Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos de idade. Dentre as 169 ameaças recebidas pela agência por e-mail, entre 17 de dezembro e a tarde de terça, além de diversos telefonemas, um e-mail possivelmente enviado do Rio Grande do Sul chamou a atenção. Além das ameaças, ele continha um link que mostra uma pessoa enforcando um cachorro.

“O apocalipse se aproxima. Confiram o que foi feito com o meu cachorro no vídeo do link”, escreve o autor da ameaça. O vídeo chegou a ser visto por alguns servidores, mas já saiu do ar. A reportagem do portal R7 teve acesso ao conteúdo do e-mail. Nele, a pessoa, que cita nome, CPF e se declara adolescente, encerra o texto com uma saudação nazista.

“Os senhores irão pagar caro, com certeza estão recebendo propina da Pfizer para aprovarem a vacina para crianças, não? Pois bem, sou menor de idade e não tomei essa m… chinesa. Irei me deslocar da minha casa no RS para BSB e irei purificar a terra onde a Anvisa está instalada usando combustível abençoado. Caso queiram me achar, meu CPF é (…) e moro no RS, mas estarei bem longe quando o Xandão [possivelmente uma referência ao ministro do STF, Alexandre de Mores] mandar os vagabundos parasitas da PF aqui pra casa. Boa sorte, que Deus nos abençoe (…)”, cita um trecho da mensagem.

As ameaças contra diretores e servidores da Anvisa se intensificaram depois que a agência publicou uma nota repudiando intimidações por parte do presidente Jair Bolsonaro, que, durante transmissão ao vivo pelas redes sociais, afirmou que pediu “o nome das pessoas que aprovaram a vacina para crianças a partir de 5 anos”. A nota é assinada pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e quatro diretores.

Na última semana, o ministro Alexandre de Moraes deu prazo de 48 horas para o presidente Bolsonaro explicar a suposta intimidação contra servidores da Anvisa que aprovaram a utilização da vacina no público infantil.

O ministro também solicitou à Anvisa o envio das mensagens com ameaças ao Supremo. A análise está sendo feita por Moraes no âmbito de um requerimento protocolado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).