Durante o tempo de réplica no décimo dia de julgamento do Caso Kiss, o representante do Ministério Público David Medina disse que os réus no Caso Kiss querem se isentar e culpar o poder público pelo incêndio em Santa Maria, que provocou 242 mortes em janeiro de 2013. “A que ponto nós chegamos: aqueles que colocaram fogo se isentam da responsabilidade, atribuindo a culpa ao poder público”, afirmou, na sessão do Foro Central de Porto Alegre.
Para o promotor de Justiça, não é difícil observar de quem é a culpa em relação ao incêndio, já que, segundo ele, os sócios Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann permitiram uso de artefatos pirotécnicos da casa sem a devida autorização. “Quem colocou fogo? Esses dois moços que estão sendo acusados por isso. E aqui um detalhe muito importante: sem as autoridades saberem”, justificou.
O promotor refutou argumentos de que o sócio da boate Kiss, Mauro Hoffmann, não tinha voz em decisões administrativas da Kiss. “O pior cego é aquele que não quer ver”, pontuou. Durante os argumentos, Medina apresentou o vídeo do depoimento do sobrevivente Delvani Rosso, no quinto dia de julgamento. Na ocasião, o depoente relatou ter tido que reaprender a andar, além de permanecido um mês na UTI após a tragédia.
O representante do MP criticou atuação da defesa no julgamento, apontando certas atitudes dos advogados como “inaceitáveis”. “Não quero que levem uma impressão ruim do que é um tribunal de júri”, afirmou. Segundo ele, houve um “descontrole” por parte dos advogados da defesa, sendo que o mesmo não é permitido aos pais das vítimas, que assistem ao julgamento.
“Nós estamos aqui há dez dias calando a boca desses pais e mães. Eles estão loucos pra falar, eles queriam se manifestar aqui. Queriam abrir faixa, queriam dar as mãos aqui na frente e nós estamos dizendo: não façam nada porque se vocês fizerem podem anular o júri”, destacou.
Anteriormente, o assistente de acusação Amadeu Weinmann destacou que a boate Kiss se orgulhava de superlotação de clientes. Segundo ele, esse e outros fatores, como não funcionamento correto de extintores e falta de segurança na casa, contribuíram para a morte das 242 pessoas na tragédia. “Vamos admitir que as entidades tenham falhado no caso da boate Kiss, em Santa Maria, mas os senhores não podem falhar”, ressaltou, referindo-se aos jurados do processo.
Depois da réplica dos representantes do MP, os advogados dos réus terão voz no plenário. Em seguida, o Conselho de Sentença se reúne em sala secreta para o veredito do julgamento.