Promotor alega ser impossível dar justiça às famílias das vítimas da boate Kiss

David Medina disse que a tragédia se enquadra como crime de homicídio doloso

Foto: Ricardo Giusti/CP

Começou, na tarde desta quinta-feira, a fase de debates no julgamento do caso da boate Kiss em Porto Alegre. A etapa teve início com a fala do representante do Ministério Público, o promotor David Medina, que se dirigiu aos familiares das vítimas presentes no plenário dizendo que é impossível fazer justiça para cada pai e mãe que perdeu um filho na tragédia.

“Eu tenho vergonha de pedir justiça porque é impossível dar justiça a esses pais e mães. Como vamos dar o que é justo para cada um desses pais e mães? Quem eles vão abraçar no Natal neste ano? E no ano que vem? Não existe prisão pior do que a desses pais. Tem muita dor do lado de lá”, afirmou.

Ele ainda ressaltou que os sobreviventes também sofrem com uma certa “prisão”, colocando o exemplo de Kellen Ferreira, que esteve presente no plenário para depor sobre a noite da tragédia, e que perdeu parte da perna.

Crime doloso

O promotor também falou sobre enquadrar o incêndio na boate Kiss como crime de homicídio doloso. “Nós precisamos dizer que incendiar uma casa lotada de gente é crime de homicídio doloso porque isso vai proteger, daqui para frente, nossos filhos e filhas. Eu não quero ver meu filho entrando numa boate para nunca mais sair. Isso só vai acontecer se a gente conseguir dizer para todos os proprietários de boates do Brasil que cuidem dos seus frequentadores. As pessoas entram e precisam sair”, destacou.

Medina ainda disse que pede a condenação por crime doloso “não porque os réus quiseram provocar o incêndio, mas porque assumiram o risco”.

O promotor também citou que a tese dos acusados é de que eles não tiveram culpa, e que a culpa é do sistema. “Eles não têm condições de assumir seu erro porque é muito difícil assumir a morte de 242 pessoas. Quer negar, nega, mas não fica espalhando responsabilidades”, disse.

Medina questionou se sócios da boate tinham preocupação ou indiferença com a segurança: “Não tinham preocupação nenhuma. Eu já assumi o lado da indiferença. Se a gente abstrair todas as mentiras contadas nesse processo, tentando atribuir responsabilidade a outras pessoas, e perceber a forma como os réus agiram, houve indiferença”, afirmou o promotor e ainda questionou: “Se havia luzes indicativas, como tantas pessoas morreram empilhadas nos banheiros da casa?”

A fase de debates teve início hoje com a acusação – Ministério Público e Assistência de Acusação. Depois, as quatro defesas dos réus terão 37 minutos e 30 segundos cada para falar no plenário.