O ex-vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, disse na tarde desta quinta-feira, no nono dia de julgamento do Caso Kiss, que era do conhecimento geral da comunidade de Santa Maria que o grupo fazia shows com pirotecnia. Segundo ele, a Gurizada Fandangueira já havia feito uso dessa prática em uma outra ocasião na boate Kiss. Na noite da tragédia, Marcelo recordou que depois de fazer a coreografia com o artefato pirotécnico, que Luciano acionou, largou o objeto e na sequência, alguém lhe avisou que havia fogo no lugar.
Ele ainda relatou que alguém havia lhe alcançado o extintor, mas que não funcionou na hora que tentou usar. “Eu olhei para trás e não achei nada que pudesse pegar para combater o fogo. Não me deram essa chance de combater o fogo. Eu fiquei embaixo dele e não podia fazer nada vendo o desespero das pessoas, correndo, querendo sair e eu não podia ajudar”, disse.
Após a tragédia, Marcelo disse que passou por necessidades porque não conseguia mais emprego por ficar “conhecido por ser o vocalista da Gurizada Fandangueira e o caso da Kiss”. Quando conseguiu um trabalho em obras, por causa de um conhecido, ele disse que se escondia quando se sentia mal, devido às sequelas do incêndio, como tosse e falta de ar por medo de perder o emprego. “Eu sabia que tinha que consultar, mas não ia, porque todo mundo dizia ‘aquele é o Marcelo da Kiss’. Eu trabalhava e escondia quando tinha falta de ar para ninguém me ver daquele jeito”, disse.
Marcelo seguiu morando em Santa Maria e acompanhou todas as audiências do caso Kiss. Ainda relembrou de uma ocasião quando se deparou com a mãe de uma vítima no Fórum e recebeu um abraço dela. “Desde aquele dia eu quero justiça, mas uma justiça correta. Ninguém iria imaginar que aquilo aconteceria. Era uma cena de horror”, afirmou. “Dia 27 nunca saiu de mim. Eu acordo e durmo pensando no dia 27. Eu não estou bem e nunca estive”, completou. O depoimento de Marcelo encerrou após uma hora. Ele apenas respondeu as perguntas feitas pelo juiz Orlando Faccini Neto e da defesa.
Mais cedo, prestaram depoimento outros dois réus: o ex-produtor da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Bonilha Leão, e Mauro Hoffmann, que era sócio da boate Kiss.
Luciano disse que os clientes da boate nos momentos iniciais do incêndio correram até a porta do estabelecimento e pediram a abertura da porta, sem resposta. “Eu passei na frente do espelho d’água. Eu vi que as pessoas diziam: ‘tá pegando fogo, abre a porta, abre a porta’. E não abriu a porta”, afirmou.
Já Mauro alegou não ter sido informado da colocação de espuma para tentar solucionar o problema de acústica da boate. De acordo com o réu, o papel dele como sócio na Kiss era mais de investidor, sem participação direta nas questões administrativas da casa.