Spohr fala que banda usou pirotecnia sem autorização na boate Kiss

Réu também contou que uma vizinha que vivia no bairro reclamou do barulho da boate

Foto: Ricardo Giusti/CP

Elissandro Spohr afirmou, nesta segunda-feira, que a banda Gurizada Fandangueira usou artefatos pirotécnicos, na noite da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, sem a autorização. Questionado pelo juiz Orlando Faccini Neto, o ex-sócio da casa noturna disse não se lembrar se o grupo pediu para usar o material. “Nunca vi uma banda fazer aquilo”, alegou. O acionamento do artefato provocou o incêndio que causou a morte de boa parte das 242 vítimas e feriu mais de 600 pessoas em 2013. Spohr começou hoje a ser interrogado. Ele é o primeiro, entre os quatro réus, a depor.

O empresário ainda relembrou das reclamações feitas por uma vizinha do barulho que vinha da Kiss. Segundo ele, para resolver o problema, procurou o engenheiro Samir Samara, que o orientou a colocar uma parede no lado que era direcionada à residência da mulher e também uma espuma. No entanto, após a instalação dos materiais, o barulho continuou. “Era uma vizinha o problema. Tentei de tudo para resolver”, disse o réu, sobre o vazamento acústico.

Segundo Elissandro, um outro engenheiro identificado como Pedroso, responsável pelo projeto acústico, aconselhou a retirar a espuma que havia sido colocada. Como a obra não resolveu o problema, Elissandro procurou Samir novamente, que indicou colocar espuma no palco.

O réu relatou que, quando o incêndio começou, tentava convencer um frequentador a deixar a boate por conta de embriaguez. “Não vi início do incêndio. Só as pessoas gritando e correndo na direção contrária do palco. Eu entrei um pedaço e vi o palco” relembrou. Spohr conta que, em seguida, saiu correndo pela porta dos fumantes e gritando “sai, sai, sai, abre, abre”.

O empresário chorou muito ao lembrar da noite do incêndio. Quando começou a ser informado sobre o número de mortos, disse que “não sabia o que fazer”. “Não tinha explicação. Eu não quis isso e não escolhi isso. Isso não devia ter acontecido. A boate Kiss era uma boate boa. Todo mundo gostava de trabalhar lá”, desabafou. “Eu virei um monstro de um dia para o outro”.

Nesta quarta-feira, teve início o interrogatório dos acusados, com Elissandro Spohr. Os demais réus permanecerão no plenário. Para esta quinta, prestarão depoimento, nessa ordem, Luciano Bonilha, ex-produtor da banda Gurizada Fandangueira; Mauro Hoffman, outro sócio da boate, e Marcelo Santos, vocalista do grupo musical.