O bombeiro militar Gerson da Rosa Pereira, terceira testemunha ouvida nesta terça-feira no julgamento da boate Kiss, esclareceu que a única viatura encaminhada à casa noturna, no dia da tragédia, era suficiente para apagar o fogo, já que segundo ele, era um incêndio controlado.
Pereira era chefe do Estado Maior dos Bombeiros em Santa Maria na época. A função, explicou ele, é de gerenciamento de pessoal, orçamento, entre outras tarefas. “Fiquei sabendo do incêndio e fui para o local”, disse.
O integrante do Corpo de Bombeiros também relatou que os bombeiros agiram corretamente na noite de 13 de janeiro de 2013. “Disseram que a primeira coisa que os bombeiros fizeram foi jogar água no prédio. Isso se faz para resfriar a estrutura do prédio”, disse. “Além disso, os bombeiros foram para o telhado para abrir uma espécie de janela para que o ar circulasse no local”, explicou.
Pereira lembrou ainda que quando chegou na frente da casa noturna, a movimentação era de “total descontrole”, o que, de acordo com ele, é natural. “Neste momento, até por força de minha profissão, avoquei para mim a organização do salvamento”, afirmou. “A primeira coisa que fiz foi entrar na boate para ver como estava o ambiente”, disse, embargando a voz. Ele recordou que havia muita gente correndo de um lado para outro na calçada na frente da casa noturna. Dentro da boate, já havia integrantes do Corpo de Bombeiros vendo o que podia ser feito. “Não havia mais pessoas que pudessem ser resgatadas com vida”, relembrou, não conseguindo segurar as lágrimas. “Foi uma cena muito forte”, classificou.
Algum tempo depois, criou-se um centro de controle, envolvendo a Brigada Militar, o Corpo de Bombeiros e a Força Aérea, dividido por zonas: quente, morna e fria. Nessa última, de acordo com Pereira, ficava a imprensa, que recebiam atualizações sobre a situação.
Ele lembra que começou, então, a montagem do pavilhão onde ficaram os parentes das vítimas. Assim, de acordo com Pereira, foram pensadas várias ações, que foram sendo abandonadas por não serem possíveis de executar. “Uma das experiências foi a do caminhão frigorífico, que seria usado para levar os corpos para Porto Alegre, mas abandonamos a ideia, devido a logística que seria muito grande”, afirmou. “Aí, invertemos a ordem. Os peritos foram levados para Santa Maria para fazerem os exames”, disse.
Pouco depois, contou Pereira, chegou a informação da viagem da então presidente da República, Dilma Rousseff, a Santa Maria. Segundo o integrante do Corpo de Bombeiros, a partir da chegada de Dilma, o Exército começou a gerenciar a situação: “como era presidente da República, a organização passou a ser do Exército”.
Em seguida, Pereira recordou o que ocorreu durante o atendimento aos feridos no incêndio. O juiz Orlando Faccini Neto quis saber se havia permissão para abrir buracos na parede. “Vi pela TV a abertura dos buracos, não vi quando eles foram feitos”, contou Pereira, explicando como pode ser combatido um incêndio. “A minha atuação, naquele dia (do incêndio) foi operacional”, reforçou.
Processo
Após a tragédia, Pereira lembrou ter sido processado. “É muito triste”, afirmou. “Em alguns momentos tentei me aproximar dos pais, nem todos deu para abraçar”, reclamou. O integrante do Corpo de Bombeiros lembrou dos momentos difíceis após o incêndio, quando ele e alguns colegas foram “execrados” pela opinião pública. “Cheguei ao ponto de questionar se o Corpo de Bombeiros não deveria ser extinto”, afirmou.
“O filho de um colega chegou em casa e perguntou ao pai se ele era bandido, pois o coleguinha de escola havia dito que o pai dele havia matado muita gente”, recordou Pereira, não contendo as lágrimas. “Tivemos dois inquéritos, um do Corpo de Bombeiros e outro da Polícia Civil”, afirmou. “O dos Bombeiros foi feito de forma discreta, já o da Polícia Civil foi cheio de pirotecnia, com ilações”, criticou.
O advogado Jader Marques, defensor de Elissandro Spohr, começou a fazer perguntas ao coronel do Corpo de Bombeiros após o intervalo do julgamento. Pereira comentou sobre o inquérito realizado pela Polícia Civil.
“Quando passamos por uma situação, com comentários de pessoas que não têm conhecimento técnico, é muito triste”, comentou. “Muito coisa foi dita em relação aos bombeiros, em relação a mim. Não fui nem convocado pela Polícia Civil para prestar depoimento. Fui para representar os meus subordinados”, ressaltou.