Ômicron, inflação e juros altos ameaçam crescimento do PIB

Salto dos preços e dos juros reduzem o poder de compra da população e puxam para baixo o consumo das famílias

Dinheiro. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Uma retomada econômica efetiva, com a reversão dos resultados negativos que colocaram o Brasil em uma nova recessão técnica, ainda deve levar um tempo para acontecer. A sinalização negativa é resultado de uma composição de fatores, entre os quais aparecem a inflação ainda em níveis elevados, a escalada da taxa básica de juros e o risco de rompimento do teto de gastos públicos.

“A inflação, que corrói o poder de compra da população, está impactando os setores de comércio e serviços, que poderia ter crescido mais. As famílias estão voltando a consumir serviços e, ao mesmo tempo, os preços estão prejudicando o varejo”, indica Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos. “Remédio amargo” para segurar o avanço do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que supera os 10% nos 12 meses finalizados em outubro, a taxa básica de juros deve persistir em alta ao menos nos primeiros meses de 2022.

Com os juros mais altos, o crédito para investimentos no setor produtivo fica mais caro e, consequentemente, barra a geração de empregos. A movimentação tira o dinheiro do bolso dos consumidores e puxa para baixo o consumo das famílias, responsável por dois terços (cerca de 65%) do PIB (Produto Interno Bruto) no Brasil.

Fábio Astrauskas, economista e professor do Insper, alerta ainda para o efeito da variante Ômicron no desempenho econômico neste último mês do ano, o que pode manter o Brasil em recessão técnica. “Provavelmente haverá um impacto negativo da variante Ômicron sobre o PIB do quarto trimestre, que deverá repetir a trajetória de estagnação observada desde o segundo trimestre deste ano”, avalia o economista.

Fernando de Aquino, coordenador da Comissão de Política Econômica do Cofecon (Conselho Federal de Economia), ressalta que, mesmo antes da nova cepa, a situação econômica nacional já não era favorável. “Nós temos a instabilidade política, que melhorou, mas deixou permanente os reflexos e retardam o investimento, o consumo de bens e retarda a retomada da economia”, aponta ele.

Desafios

Mesmo com o possível retrocesso da pandemia nos próximos meses, Astrauskas avalia que o Brasil vai enfrentar “desafios enormes” para sair da crise atual com credibilidade e geração de empregos.

“Para 2022, o cenário será de alta forte de juros, especulação política e incerteza quanto à capacidade da equipe econômica enfrentar os desafios de crise. Assim, as perspectivas do PIB para 2022 são negativas, projetando um crescimento muito baixo”, observa Astrauskas.

De acordo com dados do mercado financeiro coletados semanalmente pelo BC (Banco Central), as apostas mais recentes apontam que o Brasil vai fechar 2021 com uma inflação de 10,15%, taxa básica de juros de 9,25% ao ano e crescimento econômico de 4,78%, ante a queda de 4,1% apurada no ano passado.

Para 2022, os analistas preveem uma inflação na casa dos 5% e avanço de apenas 0,58% do PIB, na comparação com 2021. Aliado aos dados mais negativos do que os apresentados nas últimas semanas, o cenário aponta para uma taxa de juros na casa de 11,25% ao ano.

Rachel cita ainda que o risco fiscal ocasionado pelo possível rompimento do teto de gastos públicos para o pagamento do Auxílio Brasil tende a reduzir as expectativas e gera mais inflação. “Se os agentes da economia acharem que a inflação vai subir, eles já colocam isso nos preços e a inflação efetivamente sobe no futuro”, afirma ela ao sinalizar a retomada de toda cadeia, o que é moldado cada vez com mais incerteza.