O MDB gaúcho vai investir pesado na composição de uma chapa majoritária na eleição regional, na qual detenha a vaga do candidato a governador e mantenha a aliança com o PSDB. Internamente, o partido já se organiza para ficar também com a vaga do Senado, reservada para o ex-governador José Ivo Sartori. De público, contudo, as lideranças emedebistas informam que não há ainda acordos feitos e que a vaga do Senado estará colocada na mesa de negociações das alianças.
Nesta quarta-feira, o presidente estadual do MDB, deputado federal Alceu Moreira, reforçou sua “certeza” no encaminhamento de uma coligação dos dois partidos na eleição do próximo ano no RS, e disse que, tão logo o MDB defina seu candidato, o que deve ocorrer até fevereiro, atrairá também outras siglas. A legenda está confiante de que, mesmo que siga ostentando níveis elevados de intenções de voto, o governador Eduardo Leite (PSDB) vai manter a palavra e não disputará a reeleição, optando por tentar fazer um sucessor.
“Não trabalhamos com a hipótese de irmos sozinhos. Temos duas convicções. A primeira, de que teremos candidato ao governo, isso não será negociado. Se oportunizado fosse, a possibilidade de ter o Sartori candidato ao Senado também é tudo o que o partido quer. Mas vamos discutir com os aliados. A segunda convicção é a da importância de manter este grupo de centro unido. É o mesmo ciclo de governança. Se o MDB e o PSDB estiverem juntos, certamente temos condições de fazer uma coalizão muito mais robusta, e com muito mais possibilidade de vitória.”
Na terça, antes da votação do projeto do teto de gastos, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Gabriel Souza (MDB), havia assinalado a importância de o partido buscar aliados com os quais possua um grau significativo de convergências. E, também, destacado a semelhança das políticas implementadas nos governos Sartori e Leite. A ‘unidade’ entre as duas administrações é um dos principais argumentos utilizados pelos emedebistas que defendem a aliança com o PSDB como prioridade nas articulações para 2022. “Não há um acordo feito, mas sim uma lógica muito similar dos governos Sartori e Leite, e ela pressupõe que existem partidos que compuseram as duas administrações e possuem afinidades. Nosso entendimento é o de que não dá para misturar camelo com girafa”, compara Gabriel.
Além do calendário, movimentos de outras siglas precipitam articulações
As declarações de Alceu Moreira e de Gabriel Souza ocorrem em uma semana importante para o MDB gaúcho, que tem reunião do diretório estadual nesta quinta-feira e congresso no sábado. O partido convocou reunião dos 71 membros do diretório para a noite desta quinta, de forma a deliberar sobre a data, o regulamento e o colégio eleitoral da prévia que deverá escolher seu candidato ao governo do Estado em 2022. Alceu e Gabriel são hoje os dois postulantes com maiores chances de conseguir a indicação do partido para disputar o Piratini. A legenda chegou a encomendar recentemente um levantamento para tentar definir, com os números, qual deles alcançava melhor performance, mas os dados mostraram um cenário inconclusivo, no qual nenhum obteve larga vantagem. Conforme Alceu, caso a sigla chegue a um nome de consenso antes da realização da prévia, ela poderá ser cancelada.
O congresso acontecerá de forma presencial entre 8h30 e 13h30 de sábado no auditório Dante Barone da Assembleia Legislativa, e será transmitido pelas redes sociais da legenda a partir das 12h. O evento acontece para marcar a apresentação do plano de governo que o MDB vai apresentar na disputa de 2022, e que foi construído a partir da realização de uma série de encontros pelas diferentes regiões do Estado.
O calendário e as movimentações do MDB já eram esperados para este início de dezembro porque o partido optou por aguardar o resultado das prévias do PSDB que definiram o pré-candidato tucano à presidência da República. O governador Eduardo Leite disputava a indicação com o governador paulista, João Doria, que saiu vencedor. Com Leite fora do jogo nacional, o MDB se agiliza para obter o apoio do governador, de forma a que o candidato emedebista herde o maior percentual possível de votos do tucano. O entendimento é o de que, quanto antes isto ficar claro, mais fácil será evitar a diluição de votos do chefe do Executivo, já que, em função do próprio perfil de Leite, ele tem eleitores da centro-esquerda à direita. O MDB também já tenta quantificar qual dos seus postulantes ao governo tem perfil para ser apontado mais facilmente como “sucessor” do atual projeto.
Além das próprias articulações, contudo, ajudam a agitar as negociações do MDB o movimento de outras siglas, entre elas parte do próprio PSDB e, ainda, o Podemos. Este último vem fazendo acenos explícitos à Leite no sentido de integrar uma aliança que tenha como candidato ao governo o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior (egresso do PTB, ele assinou filiação no PSDB no fim de setembro) e garanta apoio à reeleição de Lasier Martins (Podemos) ao Senado. Internamente, os emedebistas minimizam as chances de Ranolfo emplacar a candidatura, e não escondem sua preferência por uma composição com o PSDB que tenha, na vaga de candidata a vice-governadora na chapa encabeçada pelo MDB, a prefeita de Novo Hamburgo, Fátima Daudt.
Em 2018, o MDB e o PSDB tiveram uma disputa dura no segundo turno da eleição para o governo, e Leite acabou derrotando Sartori em sua tentativa de reeleição. Hoje, porém, o MDB é um dos principais partidos da base aliada do governo na Assembleia Legislativa e detém, além de secretarias, um número considerável de indicações nos escalões inferiores.