“Política da casa era quanto mais gente melhor”, relata sobrevivente que trabalhou na boate Kiss

Katia Siqueira disse ainda que não tinha carteira assinada

Foto: Ricardo Giusti/CP

As primeiras testemunhas do julgamento da boate Kiss começaram a ser ouvidas, na tarde desta quarta-feira, no Foro Central, em Porto Alegre. Primeira a depor, a ex-funcionária da casa noturna Katia Geane Pacheco Siqueira, começou a sessão respondendo sobre o regime de trabalho e o movimento da boate. “A política da casa era quanto mais gente melhor”, contou. O incêndio matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos, em Santa Maria, em janeiro de 2013.

Katia começou a trabalhar na Kiss entre julho e agosto de 2012, mas não tinha carteira assinada. Segundo ela, o valor que recebia por noite trabalhada era de R$ 50. A depoente também confirmou que a casa tinha o costume de operar com capacidade acima do recomendado. “Tinha dias com pouco movimento que tinham entre 300 e 400 pessoas. Mas em dias de movimento, quase não dava pra se mexer lá dentro”, completou.

Katia teve 40% do corpo queimado devido ao incêndio e passou por cinco cirurgias de enxerto de pele. Ela relatou que, com as sessões de fisioterapia, livrou-se de sequelas em relação ao movimento. Conforme ela, nenhum dos acusados do julgamento contribuiu para pagar os custos do hospital e do tratamento feito após ela receber alta.

Grávida, ela disse que espera que os traumas sofridos não afetem o bebê. A depoente ainda contou que nunca teve treinamento para situação de incêndio e disse não saber se algum colega teve.

De acordo com a ex-funcionária, “deletar o máximo possível” das lembranças acabou sendo a saída que encontrou. Ela disse que se mudou de Santa Maria e que passa pela cidade quando vai visitar a cidade natal, São Francisco de Assis. Atualmente, a sobrevivente mora em Porto Alegre.

Além de Katia, ainda devem depor no julgamento, nesta quarta-feira, Kellen Ferreira e Emanuel Pastl, também sobreviventes do incêndio.