Um dos réus do Caso Kiss, o ex-produtor da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Bonilha, disse em entrevista exclusiva ao Correio do Povo durante o julgamento no Foro Central de Porto Alegre, que irá tentar passar a sua “verdade” sobre os acontecimentos que levaram a morte de 242 pessoas na boate de Santa Maria, em janeiro de 2013. “Eu penso que esse júri de hoje vai ser meu último grito. Vou tentar passar a minha verdade, a história da minha vida. E eu peço a todos que me escutem”, destacou.
Ao chegar no local do julgamento na Capital, Bonilha estava aos prantos e aos gritos disse que “não era assassino”. Ele acabou passando mal e precisou de atendimento especial do ambulatório do Foro Central, o que acabou fazendo com que ele chegasse na audiência por volta das 10h. O réu também fez um apelo para os presentes na sessão procurarem entender a dor dos familiares das vítimas da tragédia. “Ninguém sabe a dor que eles sentem. Quem hoje aqui desrespeitar (a dor), eu tenho certeza que eu vou ser o primeiro a não aceitar”, destacou.
A acusação afirma que Bonilha apoiou a utilização dos fogos de artifício que entraram em contato com a espuma do teto da boate, sabendo da não recomendação deles par ambientes fechados. Também conforme a denúncia, ele saiu da boate Kiss sem alertar o público sobre o fogo e a necessidade de evacuação, mesmo podendo fazê-lo, levando em consideração que ele tinha fácil acesso ao sistema de som do estabelecimento.
Também são réus no Caso Kiss os sócios da casa noturna Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, e o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos. Todos respondem por homicídio simples (242 vezes consumado, pelo número de mortos, e 636 vezes tentado, número de feridos).
Uma das mães das vítimas da boate Kiss, Suely Urquiza, que perdeu a filha Natasha Oliveira Urquiza na tragédia de Santa Maria, chegou nesta manhã no Foro Central de Porto Alegre e disse esperar que os réus do julgamento sejam condenados. “Espero justiça e que os responsáveis sejam condenados”, disse ela, que veio de Uruguaiana e não integra a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).
A expectativa é que o julgamento do Caso Kiss, o maior na história do Rio Grande do Sul, dure duas semanas. Nesta manhã, foram definidos os jurados que compor o conselho de sentença. Em razão dos protocolos de prevenção à pandemia de Covid-19, serão liberados no plenário do júri 124 lugares para acompanhamento do julgamento de forma presencial. Todas as pessoas que estarão no júri do caso Kiss deverão apresentar passaporte vacinal.