A filiação do presidente Jair Bolsonaro ao PL (Partido Liberal), nesta terça-feira (30), tem potencial para alterar profundamente o cenário pré-eleitoral e projeta efeitos sobre a correlação de forças políticas no Congresso em 2022. Segundo cálculos de dirigentes do PL, que também passará a abrigar a candidatura de Bolsonaro à reeleição, a tacada permitirá à legenda ampliar sua participação nos dois fundos que financiam a atividade política – o eleitoral e o partidário – para cerca de R$ 200 milhões no ano que vem.
A depender do sucesso da empreitada, o resultado eleitoral da entrada de Bolsonaro na sigla, somado à migração de parlamentares para o PL, deve alavancar a bancada de deputados federais do PL dos atuais 43 representantes para até 65. Esse ganho de musculatura política, se confirmado, projetará o partido de Valdemar Costa Neto a uma condição inédita de poder: pela primeira vez, o PL passa a reunir condições de disputar a presidência da Câmara, o que retira o PP de Arthur Lira da zona de conforto. Até o momento, as duas legendas agem em aliança pela governabilidade.
Uma vez confirmado esse cenário, o PL vira também uma espécie de fiel da balança nas decisões do Legislativo, isto é, sem votos dos liberais, dificilmente se aprova um projeto em plenário – papel semelhante ao exercido pelo antigo PMDB durante mais de 20 anos.
O ato de filiação, ao qual comparecerá expressiva parcela de comandantes das alas de direita e centro-direita, representa a conclusão do movimento de retorno de Bolsonaro ao espectro político ao qual esteve vinculado por décadas de sua atividade parlamentar. O presidente também abandona em definitivo o discurso que o levou ao Planalto, marcado por ataques duros ao estilo fisiológico de fazer política, baseado em acordos e trocas de favores, carimbados à época com o rótulo de “velha política”e típico das legendas médias que formam o Centrão.
No decorrer dos quase três anos de governo, após sucessivas crises que culminaram com o confronto entre Planalto e STF, e com o consequente risco institucional, o apoio oferecido pelas alas ideológica e militar mostrou-se insuficiente para garantir a governabilidade. Bolsonaro buscou, então, nos parlamentares do Centrão a sustentação política necessária – vínculo que a partir de hoje se torna formal com a assinatura da ficha de filiação ao PL.