Caso Kiss: defesa de Elissandro Spohr pede que Justiça invalide simulador criado pelo MP

Segundo advogado Jader Marques, maquete 3D não é fiel às medidas da casa noturna

Advogado Jader Marques. Foto: Aristóteles Júnior

A defesa de Elissandro Spohr, ex-sócio da Boate Kiss que responde pela morte de 242 pessoas no incêndio de 27 de janeiro de 2013, encaminhou nesta sexta-feira (26) o pedido de desconsideração da maquete virtual apresentada pelo Ministério Público. O software, desenvolvido por profissionais vinculados à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), é uma representação virtual da casa noturna onde aconteceu a maior tragédia da história gaúcha.

Entretanto, segundo o advogado Jader Marques, há uma série de problemas na construção da maquete 3D. As medidas usadas pelos pesquisadores, por exemplo, seriam diferentes das relatadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) no laudo da boate. O defensor, que concedeu uma entrevista coletiva para apresentar os seus argumentos, revelou ainda que vai levar um simulador diferente, feito a pedido de Elissandro, por uma empresa privada.

“Não está sendo possível abrir o software para ver a maquete 3D juntada pelo Ministério Público. Meu problema é com o conteúdo desse software. Ele tem impropriedades técnicas, não está de acordo com o laudo. Se ele for mantido como ferramenta do júri, precisa ter a observação dos seus erros para não induzir aos jurados a pensarem coisas que a planta do IGP não tem”, disse.

Jader aproveitou a oportunidade para afastar qualquer possibilidade de interrupção nos trabalhos da corte por parte da defesa do empresário. “Elissandro Spohr está lá e é o único, até agora, que não afasta a sua parcela de responsabilidade. E por ela será julgado. Ele devia ser indiciado, devia ser processado e devia ser julgado. E vai ser. Não há nenhum movimento para impedir que isso aconteça”, garante.

Humanização do réu

O documentário produzido pela equipe de Spohr também apareceu na apresentação do advogado. A peça, criticada por familiares da vítima e dos sobreviventes, é tida pelo advogado como o retrato de uma outra realidade, que mostra um homem preso na noite da tragédia. Para Jader Marques, Elissandro tem responsabilidade na tragédia, mas não é o único – ou o maior – culpado pelas vidas perdidas na Boate Kiss.

“Não há nada a ser encoberto. Nos últimos nove anos, nós ouvimos, vemos e nos deparamos com o depoimento das pessoas que sofrem. E esse sofrimento é legítimo. O Elissandro Spohr, quase todos os dias, entra em contato comigo e expõe esta angústia com as coisas noticiadas. O documentário é o registro de um sofrimento diário, que nunca veio a público. O entendimento até aqui é de que todo sofrimento é legitimado, menos o dele.”, afirma.

A linha de argumentação que será levada pela defesa do réu ao julgamento, que começa no próximo dia 01 de dezembro, é de que mais pessoas deviam estar no banco dos réus. Dentre elas, as que autorizaram o funcionamento da boate quando ela foi criada, em 2009, antes de Elissandro assumir a administração do local. Por isso, o simulador desenvolvido a pedido de Jader tem dois cenários: o primeiro mostrando a Kiss em 2013, e o segundo quatro anos antes.

Além de Kiko, como é chamado, respondem por 242 homicídios simples e 636 tentativas de homicídio os músicos Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, que se apresentavam no local com a banda Gurizada Fandangueira, e o sócio-investidor da Kiss, Mauro Hoffmann. A expectativa é de que o júri se estenda por 15 dias, se tornando o mais longo da história da Justiça brasileira. Um conselho sentença, formado por sete cidadãos comuns, vai definir o futuro dos réus.