A estabilização das internações em leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) e a diminuição de casos confirmados e mortes por conta do novo coronavírus – aliados ao avanço da vacinação – compõem um cenário otimista no combate à pandemia no Rio Grande do Sul. Se em março a doença atingiu o ápice no Estado, chegando a registrar mais de 2,6 mil pessoas com Covid-19, desde o começo de setembro, conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES), as internações em decorrência da doença se mantêm abaixo de 500.
Apesar dos números positivos, especialistas advertem que ainda é preciso manter a cautela e seguir com medidas não farmacológicas, como uso de máscaras e evitar aglomerações. Desde o primeiro caso confirmado no Rio Grande do Sul, em 10 de março de 2020, os gaúchos observaram a disseminação do vírus, que ganhou força após as comemorações de fim de ano, o relaxamento das medidas de prevenção à Covid-19 e o ingresso de novas variantes da doença. O aumento do número de mortes bateu recorde em março – com 8.848 óbitos – e de casos confirmados da doença, com 233.433 no mesmo mês.
Das 35.872 mortes em função da Covid-19 no Estado, mais da metade – 18.818 – ocorreu de março a junho desde ano. Isso quer dizer que 52,45% do total aconteceu num período de 120 dias.
Na avaliação do epidemiologista Paulo Petry, todos os indicadores são positivos, com diminuição do número de contaminações, internações e mortes – além da vacinação. Mas ele alerta que os dados devem ser avaliados com cautela. “É um momento de cautela. Algumas flexibilizações já são possíveis, sem dúvida, pela melhoria do quadro, mas o cenário futuro é incerto. Esta é uma doença de componente comportamental muito forte. Se as pessoas não cumprirem protocolos como uso de máscaras, distanciamento, nós vamos voltar a ver o vírus voltar a circular”, assinala.
Professor de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Petry sustenta que o relaxamento dos protocolos sanitários pode provocar riscos no combate à pandemia e uma reversão do quadro atual. “Quando se fala em abolir o uso de máscaras isso é um erro grave. E que traria consequências terríveis mais adiante”, destacando a situação da Europa, que enfrenta uma nova onda de contágio da doença.
Apesar da estabilidade das internações em leitos de terapia intensiva, o especialista lembra que no final do ano passado, em novembro e dezembro, as coisas vinham caminhando bem, mesmo sem a vacinação. “E depois em março e abril foi o caos”, relembra. “A gente não pode baixar a guarda até que as coisas se estabilizem definitivamente, completa.
Além do ingresso de uma nova variante no Estado e do relaxamento de medidas não farmacológicas, ele também credita o aumento dos casos às festas de fim de ano e aglomerações no litoral. “O pessoal se soltou nas festas de fim de ano, com carnaval, praia. Março e abril foi o caos. Era a variante Gama, que veio de Manaus”, destaca.
Petry ressalta que a vacinação em Porto Alegre é um exemplo e reforça que a imunização da população é fundamental para evitar a disseminação do vírus. “A vacina tem uma contribuição importantíssima, mas as outras medidas se completam. E elas são especialmente uso de máscara e não aglomeração”.