O ministro da Educação, Milton Ribeiro, negou, na tarde desta terça-feira, que haja interferência ideológica na elaboração do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano. A prova, que é um dos principais meios de acesso às universidades públicas no país, começa a ser aplicada neste domingo, com a segunda etapa marcada para o domingo seguinte.
Na segunda-feira, durante agenda em Dubai, nos Emirados Árabes, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a prova “começa agora a ter a cara do governo”. O titular do MEC negou a afirmação do mandatário, alegando que não há interferência na elaboração da prova. “Não há problema de interferência no Inep nem no Enem. Está tudo encaminhado para as provas se realizarem normalmente”, disse Ribeiro após reunião no Ministério da Justiça.
Nas últimas semanas, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) sofreu com uma debandada de quase 40 servidores. Pelo menos 28 pessoas que exerciam cargos de liderança dentro do órgão e entregaram os cargos tinham envolvimento direto com a realização do Enem. Em carta, os funcionários alegaram falta de gestão na autarquia ligada ao Ministério da Educação (MEC), “assédio moral e pressão ideológica”.
Apesar da crise deflagrada pela renúncia coletiva dos servidores, a reunião desta terça no Ministério da Justiça, que contou com a presença de Ribeiro e de Anderson Torres, titular da Justiça, e o presidente do Inep, Danilo Dupas, tratou apenas da segurança durante a realização da prova.
Ingerência ideológica
Desde que assumiu o governo, Bolsonaro e os aliados vêm tentando ter maior ingerência ideológica no exame, que obedece a critérios técnicos para avaliar os estudantes do Ensino Médio no país. O Inep, responsável pela elaboração e organização da prova, está no quarto presidente deste 2019. O próprio MEC está sob o comando do terceiro ministro desde o começo da gestão de Bolsonaro.
Já no primeiro ano de governo, em 2019, o Inep teve uma “comissão ideológica” nomeada para avaliar questões da prova que barrou 66 questões. Em outubro deste ano, após uma proposta do Inep de criar uma comissão para a revisão ideológica das questões, o Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, encaminhou ao órgão uma recomendação para não levar adiante o que ficou conhecido como “tribunal ideológico” do Enem. O MEC já havia tentado algo semelhante por meio de uma portaria de fevereiro, que acabou revogada.