O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro negou que tenha pedido ao presidente Jair Bolsonaro para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) enquanto fazia parte do governo federal. O chefe do Executivo disse à Polícia Federal, em depoimento no âmbito do inquérito que apura uma eventual interferência política dele na corporação, que Moro aceitaria mudanças na direção-geral da PF somente se fosse indicado para a Suprema Corte.
Em nota divulgada nesta quinta-feira, Moro afirmou que nunca condicionou eventual troca no comando da PF à indicação ao STF. “Não troco princípios por cargos. Se assim fosse, teria ficado no governo como ministro. Aliás, nem os próprios ministros do governo ouvidos no inquérito confirmaram essa versão apresentada pelo presidente da República”, destacou. “Quanto aos motivos reais da troca, eles foram expostos pelo próprio presidente na reunião ministerial de 22 de abril de 2020 para que todos ouvissem”, acrescentou.
O depoimento de Bolsonaro aconteceu na noite de quarta-feira. Moro ficou incomodado com o fato de sua defesa não ter sido avisada. “Considero impróprio que o presidente tenha sido ouvido sem que meus advogados fossem avisados e pudessem fazer perguntas”, ponderou o ex-ministro na mesma nota.
O inquérito que investiga Bolsonaro foi aberto após Moro alegar que o presidente teria tentado interferir nos trabalhos da Polícia Federal. O ex-ministro citou uma reunião no Palácio do Planalto em 22 de abril do ano passado. Na ocasião, teria chamado sua atenção a frase “vou interferir”, dita pelo presidente.
No depoimento, Bolsonaro alegou que em nenhum momento citou interferência nos trabalhos de investigação. Sobre a frase, o chefe do Executivo disse que estava tratando da sua segurança pessoal e de sua família. O teor da oitiva está com o ministro Alexandre de Moraes, do STF. A partir de agora, Moraes pode tomar as decisões finais sobre o caso. O depoimento do presidente era a última diligência prevista.