Ex-médico da Prevent Senior conta ter sido proibido de usar máscara

Depoimento corrobora outras denúncias que já chegaram à CPI

Foto: Pedro França/ABr

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quinta-feira, o médico Walter Correa de Souza Neto, ex-funcionário da operadora de saúde Prevent Senior, afirmou que chegou a ser impedido pela empresa de usar máscara de proteção no começo da pandemia da Covid-19, no início do ano passado.

“Ninguém estava preparado para isso, essa é uma realidade, acho que não tem como a gente colocar. Mas acho que ninguém chegou a fazer o que a Prevent chegou [a fazer] no começo, que foi [chegar] a ponto de proibir a gente de usar máscara lá dentro”, afirmou. Correa contou que no início houve um surto de Covid em uma das unidades da Prevent, em São Paulo.

“Eu fiquei com medo da doença. Falei: ‘Vou pegar uma máscara’. Coloquei uma máscara N95 e fui trabalhar. A coordenadora entrou no consultório e falou: ‘Ó, você precisa tirar a máscara’. Aí eu falei: ‘Pô, mas como eu vou tirar a máscara? Pra mim é proteção. Eu não posso ficar sem máscara’. ‘Não, você precisa tirar máscara.’ Eu falei: ‘Mas já estou com a máscara, já peguei’. ‘Não, não. Não pode. Não pode, porque vai assustar os pacientes'”, relatou.

O médico ponderou que depois a operadora investiu na compra de equipamentos de proteção individual (EPIs), mas frisou que não havia autonomia médica. “A falta de autonomia é tanta que você não tem autonomia para proteger a sua própria vida. Então, o que vale é manter a engrenagem da empresa girando. Se aquilo ali atrapalhar de alguma forma o jogo, a sua vida pouco importa. Então, eu tive que tirar a máscara e continuar trabalhando sem máscara”, afirmou.

Segundo ele, a coordenadora que o obrigou a retirar o equipamento de proteção é a mesma que, em conversa de WhatsApp mostrada pela CPI, orientou um médico a prescrever cloroquina, mesmo em casos de sintomas leves, como “espirro”. “Espirrou, toma. Os resultados estão ótimos. ‘Bora’ prescrever”, escreveu.

A Prevent Senior passou a ser um dos focos de apuração da CPI depois que médicos da operadora fizeram uma série de denúncias, entre elas a de que eram obrigados a receitar o “kit Covid” a todo paciente com suspeita ou confirmação da infecção pelo coronavírus.

Outras denúncias revelaram que a empresa subnotificou casos e óbitos pela doença, além de ter feito testes com a utilização de remédios de eficácia contestada contra a Covid-19. Para isso, segundo a denúncia, a empresa limitou o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) no atendimento dos clientes. Ainda de acordo com a denúncia, o propósito era facilitar a disseminação do vírus da Covid-19 no ambiente hospitalar, a fim de iniciar um protocolo de testes para o tratamento da doença.