CPI da Covid: paciente relata que Prevent o medicou com remédios para câncer sem autorização

Denúncias enviadas à Comissão apontaram que operadora testou diversos fármacos em pacientes, que não sabiam estar consentindo

Foto: Pedro França / Agência Senado

O advogado Tadeu Frederico de Andrade, paciente da operadora Prevent Senior, disse em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, nesta quinta-feira, que quando esteve internado com Covid-19, recebeu flutamida sem a autorização dele nem da família. O senador Otto Alencar (PSD-BA) pontuou que a medicação é usada em pacientes com câncer de próstata. “Experimental”, emendou o paciente.

A Prevent Senior passou a ser um dos focos de apuração da CPI após médicos da operadora fazerem uma série de denúncias, entre elas a de que eram obrigados a receitar “kit Covid”, composto por medicamentos de eficácia contestada contra a doença, a todo paciente com suspeita ou confirmação da infecção pelo coronavírus.

A operadora realizou um estudo sobre a cloroquina em pacientes, entre 26 de março e 4 de abril. Segundo denúncias, as pessoas atendidas não eram informadas sobre isso.

Em uma das conversas de Whatsapp, enviadas por uma médica à CPI e à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 25 de março de 2020, um diretor avisa sobre o início do protocolo de hidroxicloroquina e azitromicina para pacientes ambulatoriais que preencherem os critérios. “Por favor, não informar o paciente ou familiar sobre a medicação e nem sobre o programa”, adverte ele, ao fim da mensagem.

Em depoimento à CPI, a advogada Bruna Morato, que representa um grupo de médicos que enviou à comissão uma série de denúncias que fomentou apurações em relação à operadora, também afirmou que os pacientes não sabiam do termo de consentimento. “Isso não era posto como um termo de autorização. Quando ele chegava à farmácia, no momento em que ia fazer a retirada do medicamento, era passada a seguinte informação: ‘Para retirar essa medicação, o senhor precisa assinar aqui’. Ele não tinha ciência de que o ‘assina aqui’ era o termo de consentimento”, afirmou a advogada aos senadores.

Internação

Frederico teve Covid-19 no fim do ano passado, sendo orientado a fazer uma teleconsulta pela operadora. Na ocasião, ele ainda não sabia que havia sido infectado, mas já teve receitado o chamado ‘kit Covid’, entregue ao paciente por meio de um motoboy.

Após cinco dias fazendo uso dos remédios, ele relata que a situação piorou e que procurou uma unidade de saúde da Prevent. “Foi quando, no dia 30 de dezembro, à noite, tive que ir para um pronto-socorro da Prevent Senior e fiz lá novamente um exame de PCR. O resultado saiu na hora e deu positivo (para Covid), e foi confirmado que eu estava com pneumonia bacteriana, só que avançada já”, pontuou.

O paciente ficou 120 dias internado, tendo sido entubado duas vezes. Nesse período, uma médica da operadora ligou para uma das filhas do paciente comunicando sobre os cuidados paliativos, a partir de então. “Ou seja, eu sairia da UTI, iria para um chamado leito híbrido e lá teria, segundo as palavras da Dra. Daniella, maior dignidade e conforto, e meu óbito ocorreria em poucos dias. Seria ministrada em mim uma bomba de morfina e todos os meus equipamentos de sobrevivência na UTI seriam desligados. Inclusive, se eu tivesse alguma parada cardíaca, teria recomendação para não haver reanimação”, relatou.

Os cuidados paliativos são indicados para pacientes crônicos que vivem os últimos dias, com o intuito de dar mais conforto. A família do advogado não concordou e chegou a se reunir com a médica. Ainda assim, no mesmo dia, a profissional que o atendia inseriu no prontuário o início dos tratamentos paliativos sem autorização da família, segundo o depoimento.

“Recomenda que se desligue, não se faça mais hemodiálise, não se ministrem mais antibióticos, enfim, também não faça a manobra de ressuscitação e que administre a bomba de morfina. E, ao final, ela diz o seguinte, nesse prontuário que está nas mãos da CPI: ‘Em contato com a filha Mayra, a mesma entendeu e concordou’. Isso é mentira, minha família não concordou”, contou Tadeu.

Em nota, a Prevent refutou a informação de que iniciou o tratamento paliativo em Tadeu Frederico sem autorização da família. “Já tornado público via imprensa, o prontuário do paciente é taxativo: uma médica sugeriu, dada a piora do paciente, a adoção de cuidados paliativos. Conversou com uma de suas filhas por volta de meio-dia do dia 30 de janeiro. No entanto, ele não foi iniciado, por discordância da família, diferentemente do que o sr. Tadeu afirmou à CPI. Frise-se: a médica fez uma sugestão, não determinação. O paciente recebeu e continua recebendo todo o suporte necessário para superar a doença e sequelas”, pontuou a Prevent Senior.