ANS tinha denúncia de médica da Prevent Senior desde abril

Senadores veem omissão da agência. Profissional relatou falta de autonomia médica e obrigatoriedade na indicação do "kit Covid"

Diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Roberto Rebello Filho. Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado

O vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), mostrou, nesta quarta-feira, uma denúncia enviada por uma médica da Prevent Senior à Agência Nacional de Saúde Suplentar (ANS), em abril deste ano, apontando falta de autonomia médica e obrigatoriedade na prescrição do chamado ‘kit Covid’, composto por medicamentos de eficácia questionada contra a doença. A informação contraria alegação do diretor-presidente da ANS, Paulo Roberto Rebello Filho, que disse que a agência só soube de denúncias envolvendo a operadora após as acusações feitas no âmbito da CPI, recentemente.

Segundo o senador, a denunciante enviou à CPI um texto dizendo que havia imposição por parte da operadora para que os “profissionais de saúde prescrevessem determinados medicamentos aos pacientes com Covid-19, restringindo a autonomia médica, conforme mensagens abaixo dos grupos de WhatsApp”.

Uma das mensagens encaminhadas pela denunciante menciona: “Importante: nesse minuto, iniciaremos um protocolo para pacientes internados para tratamento do Covid! Quem tiver paciente internado, favor prescrever para todos os casos no momento da internação: sulfato de hidroxicloroquina via oral associado a azitromicina”.

Outra mensagem, de março do ano passado, postula: “Todos os pacientes com sintomas gripais e/ou sinais tomográficos sugestivos de pneumonia pelo Covid-19 deverão receber o esquema com hidroxicloroquina”.

Já em outra mensagem, apontada como grave por Randolfe, uma médica orienta a prescrição de cloroquina para quem espirrar. “Espirrou, toma. Os resultados estão ótimos. Bora prescrever”, cita a mensagem.

O senador ainda mostrou uma mensagem de maio do ano passado na qual uma plantonista não prescreveu hidroxicloroquina para uma paciente com alteração eletrocardiográfica, o que contraindica o uso da medicação. Um diretor enviou mensagem para outra pessoa verificar com um diretor da operadora, que é cardiologista, autorização para o uso. Segundo o senador, ao final das mensagens, mesmo com as advertências, é recomendado que se aplique a hidroxicloroquina.

A Prevent Senior passou a ser um dos focos de apuração da CPI após médicos da operadora fazerem uma série de denúncias, entre elas a de que eram obrigados a receitar “kit Covid” a todo paciente com suspeita ou confirmação da infecção pelo coronavírus. A advogada do grupo de médicos, Bruna Morato, prestou depoimento à CPI na qual afirmou que a Prevent adotou a disponibilização de medicamentos – mesmo aparentemente ineficazes no combate à Covid-19 – como uma estratégia de redução de custos.

Segundo ela, a empresa preferia entregar o kit a internar pacientes. “Era uma estratégia para redução de custos, uma vez que é muito mais barato para a operadora de saúde disponibilizar determinados medicamentos do que efetivamente fazer a internação daqueles pacientes”, afirmou.

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