CPI: sócio da VTCLog nega participação em negociações com o Ministério da Saúde e propina a Roberto Dia

Valores transferidos pela empresa para o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde foram compensação por passagens aéreas, disse depoente

Foto: Roque de Sá / Agência Senado

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 ouve, nesta terça-feira, Raimundo Nonato Brasil, sócio da empresa de logística VTCLog. O empresário negou que tenha relações com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e disse que a VTCLog não quitou boletos em favor do ex-servidor Roberto Ferreira Dias, demitido da diretoria de logística do Ministério da Saúde, em junho deste ano, e investigado pela comissão. O que ocorreu, segundo relato de Raimundo Nonato, foi uma compensação de passagens aéreas que já tinham sido supostamente pagas pelo ex-servidor por meio de depósito bancário.

Investigada por firmar contratos irregulares e superfaturados com o Ministério da Saúde, a VTCLog presta serviços de logística e transporte ao Ministério da Saúde, como a distribuição de insumos e vacinas contra a Covid-19. Segundo dados do Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), enviado à CPI, a empresa teve registradas movimentações atípicas, de R$ 117 milhões, desde 2019.

Sobre o tema, Nonato Brasil esclareceu que os sócios não se envolvem em tratativas com órgãos públicos, diretamente. Segundo ele, os responsáveis pelas negociações são a área jurídica e diretoria-executiva, comandada por Andreia Lima que, também presente hoje na sessão, representa o empresário como advogada. Ela admitiu que um office boy da VTCLog, também já ouvido pela comissão, pagou em dinheiro boletos bancários em nome de Roberto Dias. Mas, segundo Andrea, a operação serviu apenas para dar baixa contábil a valores pagos anteriormente pelo ex-diretor à VoeTur Turismo, empresa dos mesmos proprietários da VTCLog.

Os principais contratos da VTCLog com órgãos e entidades públicas na época foram firmados com a Capes (R$ 131 milhões), com o Comando do Exército (R$ 42 milhões) e com o Ministério da Educação (R$ 34 milhões). Renan ainda chamou a atenção para vários contratos feitos sem licitação, em um total de quase R$ 400 milhões.

Durante a pandemia, Raimundo Nonato Brasil confirmou que houve um aditivo de R$ 80 milhões no contrato da VTCLog com o Ministério da Saúde. A demanda surgiu por conta de novas necessidades para a separação e transporte de carga. Renan Calheiros (MDB-AL) então afirmou que o aditivo, feito sem licitação, foi suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

“Olha, só para vocês entenderem, a demanda da Pfizer, que o ministério não me pagou um centavo até hoje, (a VTCLog) teve que investir mais de R$ 30 milhões; nós tivemos que comprar ultrafreezers pra armazenar as vacinas da Covid, -70ºC, -90ºC; nós tivemos que preparar a embalagem, porque, no mundo inteiro, não tinha essa embalagem; nós tivemos que nos preparar em três, quatro meses pra receber a vacina da Pfizer; nós tivemos que nos reinventar”, afirmou o depoente.