Gás de cozinha sobe quase 30% em 2021 e, em SP, chega a R$ 135

Botijão começou o ano abaixo de R$ 80

A alta da inflação, agravada pela instabilidade econômica em um cenário de pandemia, impacta diretamente no bolso do brasileiro e afeta de forma drástica o principal item usado pelas famílias para a preparação dos alimentos: o gás de cozinha. Desde o início do ano, o GLP (gás liquefeito de petróleo) aumentou quase 30%, cálculo feito a partir de dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Só em São Paulo, foram 16 reajustes em 2021, e o preço final chega a R$ 135 em algumas regiões da cidade.

No fim de 2020, o preço médio repassado ao consumidor do gás de 13 quilos era de R$ 75,29. Em setembro deste ano, o valor chegou a R$ 97,73, aumento de 29,8% para o bolso do consumidor. O preço máximo chega a R$ 130 em algumas regiões do país, como o Centro-Oeste e o Norte. No Nordeste, a faixa máxima de cobrança é a mais baixa: R$ 110, ainda assim bem acima dos valores encontrados no fim do ano passado.

Especialistas dizem que os sucessivos ajustes no preço dos derivados do petróleo ocorrem por levar em conta a variação do dólar e o preço do do barril no mercado internacional, como avalia o economista do IBRE/FGV Matheus Peçanha.

“O dólar vem aumentando muito desde o ano passado ,e quando ele pareceu estacionar na casa dos R$ 5,50, foi a vez do barril de petróleo ter sucessivos aumentos, por causa da política da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) na restrição da produção de petróleo, face à queda que houve na demanda global por causada pandemia”.

O economista explica que a justificativa da Petrobras para usar a fórmula vem do fato de que a maior parte do consumo nacional de derivados de petróleo é suprida pela importação. Fazer diferente pode gerar “um rombo na Petrobras”, observa. A curto prazo, portanto, uma diminuição significativa nos preços depende, por exemplo, de uma mudança de política na Opep, “o que é totalmente alheio a qualquer ação do governo ou Petrobras”, completa Peçanha.

Outra alternativa pode ser uma atuação no mercado de câmbio por parte do Banco Central para reduzir a desvalorização cambial. Além dos fatores externos, o conselheiro e assessor econômico Lauro Chaves Neto, membro do Conselho Federal de Economia, salienta que, no Brasil, “existe um impacto adicional de toda a carga tributária, que é muito elevada em nosso país e que precisa ser tratada em uma reforma”.

A saída mais demorada, porém mais sustentável, passa pelo aumento na infraestrutura nacional de refino, de modo a não depender tanto da situação externa. Chaves lembra, também, que a perspectiva de uma estabilização nos preços depende de uma “maior estabilidade política e econômica no cenário interno e que possamos ter uma um equilíbrio maior na geopolítica internacional”.