Fakhoury confirma na CPI ter bancado materiais pró-Bolsonaro no Nordeste

Calheiros argumentou que não houve declaração do financiamento e o empresário justificou que as impressões eram extraoficiais à campanha

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado/CP

O empresário Otávio Fakhoury, apontado como o financiador de fake news pela cúpula da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, admitiu, em depoimento nesta quinta-feira, ter investido em materiais favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro no período eleitoral de 2018, sem que os valores tenham sido declarados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Fakhoury justificou que o financiamento não consta no TSE por não fazer parte da campanha oficial do então candidato. “As pessoas, por livre e espontânea vontade, imprimiam os materiais, saíam às ruas, isso todo mundo viu”. Ele disse que os valores investidos foram feitos a grupos de apoio ao presidente do Nordeste do país e que “nada tem a ver com a campanha”. “Eles me pediram, se eu podia ajudá-los, e assim eu fiz. Cada um imprimiu seu material, nenhum deles é ligado à campanha.”

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) detalhou, então, que a Polícia Federal encontrou no computador de Fakhoury notas fiscais emitidas por duas gráficas do Nordeste. “Segundo os documentos, foram impressos 560 mil itens de propaganda eleitoral para Bolsonaro, como panfletos e adesivos com a foto do candidato e a proposta de campanha para a Presidência da República.”

A partir das respostas, Calheiros concluiu que Fakhoury “bancou material de divulgação da campanha do Bolsonaro à Presidência, em 2018, mas sem declarar à Justiça Eleitoral”. O empresário seguiu dizendo não ter conflito com o TSE, já que os valores eram destinados a grupos independentes e não à campanha oficial de Bolsonaro.

Por diversas vezes, senadores da base interromperam o relator, alegando que os questionamentos fugiam do escopo da CPI. “Convenhamos: o foco aqui tem que ser a pandemia. Questões eleitorais, que se investiguem no foro próprio”, interviu o senador Marcos Rogério (DEM-RO).

O objetivo das perguntas, segundo Calheiros, era construir um raciocínio mostrando as contribuições do depoente ao presidente Bolsonaro, inclusive no financiamento de fake news, acusação pela qual o empresário vinha sendo sabatinado.

Cronograma
Logo na abertura da reunião desta quinta-feira, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), informou que o planejamento na reta final de trabalho da CPI é que o relatório final seja apresentado em 19 de outubro, para que a votação ocorra no dia 20.

A semana que vem deve ser a última reservada a depoimentos, com a comissão ouvindo primeiro Carlos Alberto Sá, executivo e proprietário da VTCLog, na terça-feira. Já na quarta-feira, a previsão é ouvir um dos médicos que denunciaram práticas irregulares na Prevent Senior. No dia seguinte, é a vez de um representante da Agência Nacional de Saúde Suplementar.

O relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL), confirmou o calendário e aproveitou para anunciar que vai propor o indiciamento do empresário Luciano Hang no relatório final da comissão. Segundo o parlamentar, Hang colaborou com a “política equivocada” de enfrentamento à pandemia promovida pelo presidente da República, Jair Bolsonaro.