Diretor da Prevent Senior acusa ex-funcionários de manipular dados e garante que não desenvolveu protocolo “AntiCovid”

Senadores se reuniram com médicos e obtiveram documentos que demonstram irregularidades no tratamento da Covid-19

Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado

O diretor-executivo da operadora de saúde Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, acusou ex-funcionários de roubar e adulterar dados de pacientes da operadora para “fabricar” denúncias contra a empresa. Batista Júnior é quem presta depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 nesta quarta-feira(22) para explicar estudos feitos pela Prevent Senior sobre a doença, orientações para prescrição de tratamento preventivo para doença e ainda sobre a falsificação de laudos médicos.

“Médicos desligados em junho de 2020 manipularam dados de uma planilha interna, que era uma planilha de acompanhamento de pacientes para tentar comprometer a operadora. Esses profissionais então, já desligados, passaram a acessar e editar o referido arquivo, culminando no compartilhamento da planilha”, disse o diretor à CPI. “Reitero que o dossiê entregue a essa Casa é uma peça de horror, realmente, produzido através de dados furtados de pacientes sem qualquer autorização expressa”, disse o diretor.

A empresa é alvo de uma denúncia encaminhada à CPI por médicos que trabalharam na operadora durante o período mais agudo da pandemia. Segundo uma das acusações levadas pelos profissionais à comissão, a rede teria limitado o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) no atendimento dos clientes, chegando a proibir o uso de máscaras em algumas situações. A operadora também é acusada por repassar uma orientação interna para os seus funcionários, não negada pelo depoente, para prescrição do chamado “kit antiCovid” para casos da doença.

Inclusive, em documentos apresentado durante as perguntas ao depoente, o mesmo foi categorizado como um “tratamento precoce” contra a doença que deveria ser prescrito aos pacientes que buscassem atendimento dentro da cobertura dos planos oferecidos pela empresa. Quando abordada a essa pauta específica pela comissão, foi exibido um vídeo gravado por um suposto funcionário da Prevent Senior, em que é informado que, após assinatura do contrato com a empresa, seria enviado ao cliente um o “kit antiCovid”, Batista Júnior negou que tenham sido enviados tais medicamentos. “Eram enviadas apenas as medicações prescritas pelos médicos aos pacientes, nunca houve nenhum kit”, afirmou.

Sobre as questões referentes ao desenvolvimento de um “protocolo para o tratamento da Covid-19”, com a prescrição de remédios que iriam ser “uma proteção ao organismo contra o vírus”, para o Ministério da Saúde, Pedro Batista Júnior garantiu que anexou dentro de suas planilhas protocolos de “tratamento precoce” usados pela Prevent Senior, mas negou contato direto com o governo federal ou com a pasta. “Não tivemos qualquer contato para desenvolvimento de qualquer protocolo junto ao Ministério da Saúde”, disse.

A principal discussão que aconteceu na comissão hoje também girou em torno do tratamento de alguns pacientes como o médico Anthony Wong e, em especial, da mãe do empresário Luciano Hang, Regina Modesti Hang. Segundo o senador Renan Calheiros, a CPI tem evidências que demonstram que o empresário catarinense pediu para esconder a informação de que Regina teria sido tratada com medicamentos do “kit antiCovid”. Batista Júnior entretanto disse que não poderia fornecer as informações sobre o caso sem a autorização da família da vítima e sugeriu que a comissão solicitasse a documentação através dos meios legais da cabíveis a CPI.

Renan Calheiros também anunciou que, diante do fatos apresentados pela comissão hoje e o depoimento escuso do depoente, alterou para ‘investigado’ a condição do depoente Pedro Benedito Batista. A CPI agora enviará as informações colhidas à Procuradoria-Geral da República e ao Ministério Público do Estado de São Paulo “porque esses fatos aconteceram lá e há um desejo do MP-SP de levantar essas circunstâncias”, explicou.

“É uma farsa que será desmascarada aqui pela Comissão Parlamentar de Inquérito. Infelizmente, porque um filho que utiliza desta forma a sua mãe, que trata a covid em um hospital com medicamentos do ‘tratamento precoce’ – e nós temos comprovação de que ele recomendou a médicos: ‘olha, escondam que a minha mãe foi tratada com cloroquina para não desmerecer a eficácia do plano’. Isso é uma coisa macabra, escabrosa, reprovável, repugnável sob qualquer aspecto. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer”, disse Renan.

A denúncia foi enviada à CPI em 24 de setembro por uma advogada do grupo de 12 médicos. O R7 teve acesso a uma análise do documento, que aponta ainda que o protocolo de testes adotado pela Prevent Senior teria sido acordado com assessores do governo federal. Conforme denunciado, a pesquisa supostamente pactuada entre o governo e a Prevent precisaria comprovar a eficácia de cloroquina e azitromicina no tratamento da Covid. A empresa também foi alvo de outra denúncia de ex-funcionários de esconder óbitos causados pela Covid e suas posteriores consequências. Segundo Pedro Benedito Batista Júnior, os médicos “manipularam” os dados após roubá-los da empresa.

A CPI também tem indícios de que médicos foram ameaçados. Ex-funcionários relataram aos senadores durante uma reunião nesta terça (21) terem sido ameaçados e entregaram  documentos para corroborar as denúncias já apresentadas à comissão. Áudios em que os médicos são ameaçados também chegaram aos senadores.