Prevent Senior impedia uso de EPI para vírus circular, aponta denúncia à CPI

Documentos entregues sugerem intenção de facilitar disseminação para aplicar "kit covid"

Foto: Marcos Oliveira / Agência Senado / Divulgação

Uma denúncia encaminhada à CPI da Covid-19, por médicos da operadora de saúde Prevent Senior, aponta que a rede limitou o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) no atendimento dos clientes, chegando a proibir o uso de máscaras em algumas situações. O propósito, segundo a denúncia, era facilitar a disseminação do coronavírus a fim de iniciar um protocolo de testes para tratamento da doença.

O protocolo incluía medicamentos do chamado “kit covid”, como cloroquina e ivermectina. As denúncias feitas à CPI são públicas, mas, nesse caso, foram protocoladas como sigilosas para preservar a identidade dos denunciantes. A empresa nega as acusações e um diretor da Prevent deve ser ouvido pela comissão na semana que vem.

A denúncia chegou à Comissão no último dia 24 por uma advogada do grupo de 12 médicos. O R7 teve acesso a uma análise do documento, que aponta ainda que o protocolo de testes adotado pela Prevent Senior havia sido acordado com assessores do governo federal. Conforme denunciado, a pesquisa supostamente pactuada entre o governo e a Prevent previa comprovar a eficácia de cloroquina e azitromicina no tratamento da Covid-19.

Na denúncia, há uma mensagem de Whatsapp de 25 de março do ano passado, na qual a direção da rede indica aos médicos o início do protocolo de uso de hidroxicloroquina combinada com azitromicina nos pacientes ambulatoriais, pontuando o seguinte: “Por favor, não informar o paciente ou familiar sobre a medicação e nem sobre o programa”. Segundo denunciado, o objetivo era manipular os resultados da pesquisa para comprovar a eficácia do tratamento.

Os pacientes, então, foram testados, sem saber, e sem que os estudos tenham sido submetidos à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), dizem os denunciantes. A pesquisa só recebeu aval em 14 de abril, segundo a denúncia, sendo suspensa seis dias depois após irregularidades serem verificadas, como a inexistência de grupo de controle.

Conforme denúncia, diante das críticas do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, a rede decidiu se aproximar de assessores próximos ao presidente Jair Bolsonaro e ao Ministério da Economia para evitar conflitos. Além disso, diante do descontentamento do presidente com Mandetta, pessoas próximas a Bolsonaro passaram a defender uma estratégia de focar nas questões econômicas da pandemia, ao mesmo tempo em que Bolsonaro sugeria medicamentos como cloroquina, tentando dar uma sensação mais “segura” à população.

Apesar da autonomia médica para receitar medicamentos “off label”, ou seja, para usos não previstos na bula, desde que haja concordância do paciente, a denúncia aponta que a Prevent não permitia aos médicos receitar outros medicamentos, fora do kit.

Em nota publicada, a Prevent sustenta que vai pedir investigações ao Ministério Público para apurar “denúncias infundadas e anônimas levadas à CPI por um suposto grupo de médicos”.

“Estranhamente, antes de as acusações serem levadas à comissão do Senado, uma advogada que representa esse grupo insinuou que as denúncias não seriam encaminhadas se um acordo fosse celebrado”, pontuou a empresa.

A prestadora também disse que não vai “mais admitir que denúncias anônimas prejudiquem o atendimento aos mais de 550 mil beneficiários”. “A maioria idosos que sempre foram abandonados pelo sistema de saúde. Vamos investigar estas calúnias”, frisou.