Demanda reprimida eleva procura por atendimento em emergências em Porto Alegre

Nesta sexta-feira, ocupação média das sete estruturas monitoradas era de130,81%

Em abril deste ano, diversos hospitais da capital registraram superlotação de seus leitos | Foto: Mauro Schaefer / CP memória

A procura por atendimento em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e emergências de Porto Alegre registrou aumento no último mês. No início da noite desta sexta-feira, a taxa de ocupação média das emergências de hospitais era de 130,81%, com um total de 276 internações, conforme o monitoramento da Secretaria Municipal da Saúde (SMS)

No Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), a emergência adulta tinha 111 pacientes internados e lotação de 270,73%, quase três vezes mais o número de leitos disponíveis, que é de 41. Por conta disso, o atendimento era restrito a pacientes em estado grave.

De acordo com a gerente médica da Emergência Adulta do HCPA, Laurinda Medeiros Ramalho, a procura por atendimentos de pacientes sem sintomas de Covid-19 se intensificou na última semana, gerando superlotação.

Ela explica que muitas pessoas adiaram consultas e procedimentos eletivos por conta da pandemia. “Há uma demanda reprimida mesmo, de pacientes do Interior com doenças de alta complexidade que não conseguiram atendimento”, observa. “Vários pacientes com neoplasia, câncer sem diagnóstico, que ficaram sem receber os de devidos cuidados e estão entrando pela emergência”, completa.

Atendimentos
Pacientes com doenças cardiovasculares e pulmonares também vêm buscando mais atendimento nesses locais. “No mês passado, houve bem mais pacientes com doenças respiratórias”, compara a médica. Laurinda ressalta que o aumento da circulação da população favorece a contaminação por outros vírus. “Hoje, dos nossos 111 pacientes, há apenas 9 com diagnóstico de Covid-19”, salienta. Por conta da superlotação, o Clínicas restringe o atendimento na emergência adulta desde quinta-feira.

Das sete emergências monitoradas, a da Santa Casa opera com 195,83% de ocupação, com 47 pacientes internados em 24 leitos disponíveis. A emergência do Instituto de Cardiologia tinha 35 pacientes, com 166,67% de ocupação.

O coordenador municipal de Urgências da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre, Daniel Lenz Faria Corrêa, explica que a maioria dos pacientes que recorrem a serviços de urgência e emergência sofre de doenças crônicas, como problemas vasculares, cardiovasculares e pulmonares sem relação com o vírus. “Notamos aumento progressivo de atendimentos no último mês desses pacientes”, observa.

Corrêa reforça que o avanço da vacinação contra o coronavírus surte efeito positivo, abrindo espaço para o aumento de demanda de pacientes com outras doenças. “São pacientes que tiveram suas consultas adiadas, porque toda parte da saúde, da parte médica, estava focada no novo coronavírus. Com isso os pacientes ficaram em casa com medo de procurar uma unidade de saúde. O que antes era uma doença crônica agora virou uma doença crônica agudizada”, compara.

“Os casos de coronavírus diminuíram substancialmente nas emergências. Hoje a síndrome gripal não está nem entre as 10 principais causas de procura em emergências e pronto-atendimento”, frisa.

Ele garante que o crescimento da procura “não preocupa ainda”. Até o início da noite de hoje, a taxa de ocupação média dos pronto-atendimentos da cidade era de 136,33%, com 73 pacientes. Com 26 internações, o pronto-atendimento da Cruzeiro do Sul atendia o dobro da sua capacidade, com 216,67% de ocupação. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Moacyr Scliar tinha 31 pacientes para 17 leitos disponíveis, registrando 182,35% de ocupação. Já o PA da Lomba do Pinheiro tinha 16 pacientes e uma lotação de 177,78%.

*Com informações do repórter Felipe Samuel, do Correio do Povo